A expansão portuguesa e a constituição do seu império colonial ultramarino, assente nas feitorias e na exploração e domínio das novas rotas comerciais promoveu indiretamente o desenvolvimento do conhecimento científico (Godinho, 2008), ainda que não fosse o objetivo principal dessa dita expansão, pois a intenção era muito mais economicista.
Gabinete de Curiosidades - Domenico Remps |
Ou seja, apesar de poder ser um mito fabricado a intenção da expansão marítima nacional ter tido razões de interesse científico, algo desconstruído historiograficamente por Vitorino Magalhães Godinho (2008), o certo é que para a exploração desses novos territórios e rotas comerciais, ao longo dos séculos da exploração, foi necessário efetuar missões de reconhecimento das potencialidades comerciais dos recursos naturais dos vários locais descobertos (Boxer, 2015; Bethencourt; Curto, 2010).
Assim, tendo em conta que a aristocracia tinha uma preocupação pela procura do bizarro e novo, as explorações portuguesas terão contribuído para o enriquecer das coleções reais e senhoriais europeias, onde esses produtos também chegavam como produtos de valor transacionável, quer fossem naturais ou de produção humana. No caso a Coleção de Catarina de Áustria, rainha de Portugal, e da sua coleção de pendor renascentista ligadas a curiosidades e peças históricas, esse gosto especial pelos objetos de origem oriental é comummente aceite (Gschwend, 1993). Infelizmente pouco subsiste dessa coleção hoje em Portugal, uma vez que foi retalhada e separadas pelos vários herdeiros, governantes posteriores e, possivelmente, perdido no terramoto de 1755 e convulsões políticas e sociais posteriores.
Podemos dizer então que, mesmo podendo não ser o principal objetivo, a exploração e expansão marítima portuguesa, ainda que indiretamente, teve um papel importante para o avanço da ciência e da própria museologia.
Referências bibliográficas
- Bethencourt, Francisco & Curto, Diogo Ramada (Corrd.) A Expansão Marítima Portuguesa 1400-1800. Lisboa: Edições 70, 2010.
- Boxer, Charles Ralph. O Império Marítimo Português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 2015.
- Godinho, Vitorino Magalhães. A Expansão Quatrocentista Portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 2008.
- Gschwend , Jordan Annemarie. Catarina de Áustria: Coleção e Kunstkammer de Uma Princesa Renascentista. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993.
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