domingo, 23 de janeiro de 2011

"José e Pilar" - um filme sobre um par com um amor ímpar

O filme "José e Pilar", da autoria de Miguel Gonçalves Mendes, é uma obra difícil de descrever e classificar. Não se trata de um verdadeiro documentário, mas também não é evidentemente uma ficção. Não é uma filmagem puramente biográfica, mas fala da vida de duas pessoas bem reais passada num período de tempo exacto. No entanto, se tivesse de o classificar diria que se trata de  um "quase-documentário", pois as cenas que retratam José Saramago e Pilar del Rio encaixam-se - pelo menos aparentemente - no rigor e objectividade característicos do género documental. Só não afirmo, sem qualquer dúvida, que se trata de um documentário porque não é nada comum serem realizados filmes que tocam tanto no intimo e na vida privada de personalidades sobejamente conhecidas e de as vermos exporem-se tanto perante as câmaras - muito sinceramente, parece quase impossível como tudo aquilo pode ser genuíno e estar ao nosso dispor, ao dispor do cidadão comum . Talvez seja essa a diferença que torna este filme único e imperdível. Mas mesmo que nem tudo do que nos é apresentado seja genuíno, eu fiquei convencido! Fiquei Mesmo! Depois de ver o filme senti que tinha mesmo ficado a conhecer aquelas duas pessoas, que lhes fora tirada a máscara do mediatismo e as "cosméticas" que normalmente cobrem as celebridades - mesmo as mais intelectuais e ligadas à cultura.
Aconselho esta obra a todos, pois a todos irá interessar; para os que gostam da obra e da figura que foi Saramago - como eu - este filme será um deleite porque nos permite contemplar o lado mais pessoal do mestre; para os que desconhecem Saramago será uma descoberta cativante; e para os que desgostam, ou mesmo o detestam, o escritor pelo menos poderão aceder ao lado mais afável e agradável, e talvez melhorar a imagem que têm dele - ou talvez não...
Falando agora dos conteúdos do filme propriamente dito. O filme retrata uma parte importante da vida de Saramago, da sua vida conjugal e de cumplicidade com Pilar - a espanhola que alguns, ingenuamente ou por desconhecimento, acusam de nos ter roubado para Lanzarote o "Nobel Português". O filme não apresenta Pilar como uma mera personagem secundária, ela aqui é também uma figura principal.
Resumidamente, retrata-se no filme o período imediatamente antecedente e o da própria criação da obra "A Viagem do Elefante". Foi nesse período que Saramago adoeceu gravemente, o que implicou alongar o tempo das filmagens e que acabou por enriquecer dramaticamente ainda mais o resultado final. Em "José e Pilar", algo que me parece verdadeiramente enriquecedor é ouvir e ver, na primeira pessoa, as filosofias de vida e valores pessoais que defendem Saramago e Pilar, sendo que Saramago trata muito os temas da religião e do sentido da vida - quer antes quer depois da doença que quase o matou na altura. 
Mas a verdadeira mensagem deste filme é o Amor,  o exemplo de um amor único e muito próprio entre os dois que dão nome ao título. Esta apresentação deste amor serve, no fundo, para demonstrar quão diverso pode ser o próprio Amor, de como pode ser diferente conforme os contextos em que se desenrola e as personalidades envolvidas. Em "José e Pilar" apresentam-nos um Amor, um que o é verdadeiramente e que, por mais palavras que eu tente utilizar aqui para o classificar, não o poderei descrever, pois o amor sente-se e não se descreve por palavras - pelo menos não tão bem, no meu entender. No final do filme acredito que todos tenham, verdadeiramente, sentido algo com a exposição deste amor entre "José e Pilar".

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