Pensava eu que podia arrumar na minha estante e daqui do blogue, pelo menos por algum tempo, o livro que estou agora a terminar de ler, e que já aqui utilizei várias vezes como inspiração para alguns textos, mas afinal ainda mais umas reflexões das suas páginas surgidas. O Livro em causa é a “Expansão Quatrocentista Portuguesa” de Vitorino Magalhães Godinho . Nessa obra o autor, que é por sinal um reputado historiador, escreveu o seguinte:
“Os corsários [piratas com mandato] Portugueses atacavam sobretudo os navios mouros que traficavam [comerciavam] entre a Barbaria [costa mediterrânea de Marrocos, Argélia e Tunísia] e o Sul da Península, […] mas também pilhavam castelhanos, catalães e outros cristãos; iam raziar as Canárias, a costa saariana, a Guiné. Necessitava-se de escravos para as plantações de cana sacarina do Algarve, do distrito de Coimbra e principalmente Madeira e Açores. As casas nobres encontravam nesta actividade um meio de fazer face à crise financeira que as afligia. Os dois filhos do rei D. João I, D. Pedro e D. Henrique [o famoso infante dos descobrimentos], tiveram empresas de corsos; havia-as igualmente de simples cavaleiros e burgueses, e a própria coroa não desdenhava este recurso (os documentos falam-nos dos «corsários del-Rei»).”
O ilusionista - Hieronymus Bosch |
Nessa época era comum e aceitável que a Nobreza se dedicasse à pilhagem e pirataria, visto que eram actos de enriquecimento através da guerra e violência, pois não esqueçamos que competia a essa ordem social a responsabilidade de fazer a guerra na época (por si próprios ou ao serviço do Rei). Ou seja, durante a Idade Média era considerado nobre que a Nobreza se dedicasse a este tipo de actividades, enquanto que à Burguesia se reservava o papel de comerciar, algo que aos olhos da contemporaneidade parece um modo muito mais aceitável de enriquecer. Como podemos constatar, os valores mudam ao longo da História, tal como as sociedades. Hoje em dia ainda consideramos aceitável enriquecer pelo comércio e negócio, provavelmente por vivermos numa sociedade capitalista, assente num modelo de organização social e económico que se foi formando à medida que a Burguesia foi ascendendo socialmente a partir do final da Idade Média.
Mesmo com tantas mudanças sociais depois, actualmente ainda existem formas de pirataria para as quais não é difícil encontram defensores especialmente quando somente lhes toca o proveito e não o dano.
Basta visitar o British Museum! Não é ao acaso que a entrada é gratuita, como poderiam cobrar por dar a conhecer um espólio totalmente roubado?
ResponderEliminarPois, mas assim sendo a maioria dos grandes museus teria de ser gratuito, especialmente os grandes museus Europeus. Mas não será preferível esse roubo a ver arte e património serem destruídos? Lembram-se dos Budas do Afeganistão?
ResponderEliminarMuito interessante o texto.
ResponderEliminarNos faz recordar tempos remotos da História da Sociedade. Excelente reflexão.
Infelizmente se verifica que os grandes museus, na Europa, como dizes Micael, teriam mesmo de ser gratuitos. Agora, não podemos defender que as grandes obras de arte, sejam pilhadas e destruídas.
O conhecimento deve ser acessível para todos, essa é a questão da propriedade intelectual, produto que deve ser consumido, é o património da humanidade.
Focaste num assunto muito importante, dos Budas gigantes do Afeganistão. Na memória de muitos ainda está gravado. O mulá Mohammed Omar, ordenou a destruição de duas gigantescas estátuas de Buda, de 53 e 38 metros. E, tudo a ver com religião, e a explicação é de que, o único deus é Alá, e todos os outros falsos deuses devem ser eliminados. Incrível isto!
Este acto de vandalismo revelou ao mundo o nível de imbecilidade, só foi possível pelo fanatismo. A humanidade no meio disto tudo, sai a perder.
Lumena
É como disse, mudam-se os tempos mudam-se os valores. O Islamismo já foi em tempos muito mais liberal e respeitador das crenças e arte que o cristianismo do ocidente. Hoje felizmente temos outras opções, pelo menos no Ocidente laico e secular.
ResponderEliminarNo tempo da Ditadura clerical-fascista do Estado Novo,era ensinado nas Escolas que afinal Portugal era uma terra de Heróis e Santos.
ResponderEliminarÉ sabido que nem só os portugueses cometeram
pirataria para dilatar a Fé e o Império.
Os holandeses,os franceses também fizeram ainda mais pirataria mas os ingleses foram os maiores piratas dado que tinham uma Armada mais poderosa
e até o célebre pirata Francis Drake teve o título de Sir.