sexta-feira, 2 de abril de 2010

Humor na religião, um modo de estar em liberdade

Há quem afirme a plenos pulmões, para certos temas: "Com isso não se brinca". Essas posições defendem que se deve manter uma barreira, que jamais deve ser ultrapassada, entre o que realmente é sério e o que é humorismo.
Por outro lado há quem defenda que qualquer tema ou assunto é passível de ser parodiado. Mas a prudência pode sugerir que se definam limites, ainda que seja difícil saber onde os traçar. Ficamos sempre sujeitos à subjectividade pessoal, tal como a outras influências externas de vária ordem e natureza. Assim sendo, tal como deve haver respeito por quem não se quer envolver em paródias, também devem haver o respeito por aqueles que apreciam paródias mais vanguardistas. No fundo, uma separação onde se evite o choque de valores, mas que permita a interacção voluntária não agressiva a quem queira conhecer pontos de vista e ideias distintas. Tudo isto tendo em vista as liberdades individuais (crenças, expressão, associativismo, etc.).

A dança - Matisse
Em alguns casos, uma abordagem baseada no humor pode ser a mais frutuosa, especialmente quando se pretende passar uma mensagem ou despertar consciências. No entanto, o uso ou não do humor para tratar temas ditos ‘sérios’, controversos ou sensíveis (de acordo com as susceptibilidades de cada um), pode contribuir para uma mistura explosiva, resultando invariavelmente em intolerância e até mesmo em violência. Esse potencial negativo tende a ser agravado sempre que não se consideram, de um modo conjunto, os vários factores que influenciam o modo como se faz humor: meios e modo de transmissão; público-alvo; envolvente e contexto; bom-senso e inteligência (intelectual, emocional, etc.) dos humoristas.
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Este texto, um pouco vago, tem como objectivo tentar desmistificar o humor quando usado para abordar temáticas mais delicadas, neste caso: Religiões. Na revista “Courrier Internacional” do mês de Março surge um artigo, publicado originalmente no “El País”, da autoria de Juan G. Bedoya, intitulado de “Santa Gargalhada”, sobre uma obra lançada em Espanha que trata o humor e a religião. Nesta obra, crentes de várias religiões, e até mesmo ateus, contam anedotas sobre si próprios, sobre as suas tradições, valores, comportamentos e crenças. Deste modo é possível fazer humor com a religião, evitando a ofensa e cultivando um verdadeiro espírito de tolerância.
De seguida, alguns exemplos das anedotas que constam do artigo original, organizadas por grupos, religiões, movimentos ou filosofias de vida.

Judeus
“Um filho pergunta ao pai:
- Pai o que é a ética?
O pai, comerciante, responde:
A ética é o seguinte: Imagina que entra uma cliente na loja, compra umas calças de ganga que custam 50 €, engana-se, dá-me uma nota de 100 € e vai-se embora. A ética é: conto ao meu sócio ou não?”

Cristãos
“Três padres conversam sobre os problemas que têm com os morcegos nas suas respectivas igrejas e as maneiras de os afugentarem.
O primeiro diz:
- Peguei numa espingarda e crivei-os de tiros, mas a única coisa que consegui foi encher as paredes de buracos.
O segundo diz:
- Eu pus veneno e desapareceram, mas depois voltaram.
O terceiro, a sorrir, diz:
- Eu tenho a solução. Baptizei-os, fi-los membros da igreja e falei-lhes da dízima. Nunca mais voltaram.”

“Uma senhora de muita fé estava a ler o jornal e diz:
- Este conflito na Palestina! Estes Judeus e Muçulmanos…! Porque não resolvem as coisas como bons cristãos?”

Zen
“Perguntaram a um monge zen:
- Mestre, diga-me: o que há depois da morte?
- Não sei. Responde o sábio.
Pensámos que o senhor era sábio…
Sábio talvez, mas morto não.”

Ateus
“Dois ateus encontram-se. Diz um deles:
- Estive um dia destes na biblioteca e li um livro intitulado A Bíblia.
- Ah sim? E é sobre o quê?
- Pois olha, é sobre um tal Jesus que tinha um amigo chamado Lázaro. Um dia, estava ele a viajar, o tal amigo morre. E quando Jesus voltou à aldeia, o ta Lázaro estava enterrado há três dias. Vai daí, Jesus abre o sepulcro toma-lhe o pulso, procura respiração, faz-lhe massagem casdíaca, experimenta um desfibrilhador, chama a ambulância, leva-o rapidamente para um hospital, põe-no a soro e.. amigo ressuscita!
Diz o outro:
- Não acredito!
Caramba! Estou-te a explicar tal qual está no livro…”

“O bispo chama um padre de aldeia e repreende-o:
- Celebrares missa com calças de ganga em vez de sotaia… não faz mal! Que uses camisas havaianas… passa! Que prendas o cabelo num rabo-de-cavalo… não comento! Que uses brinco… consigo suportar! Que uses um piercing no umbigo… fecho os olhos! Mas esta agora não tolero. Não estou disposto a que, durante a Semana Santa, vás de férias e pendures um cartaz na porta do igreja a dizer ‘Fechado por morte do filho do chefe’. Isso não aceito!

Muçulmanos
“Um dia um mulá vai passear no seu burro, por quem tinha grande estima. Parou para descansar e adormeceu. Quando acordou, viu que o asno tinha desaparecido, mas em vez do ir procurar, voltou gritando euforicamente.
- Louvado seja Deus, louvado seja Deus!
As pessoas aproximaram-se, admiradas.
- O que é que aconteceu? Porque estás tão contente? Perguntavam as pessoas.
- Porque o meu burro se perdeu.
- Oh homem… mas tu gostas tanto do burro, devias estar triste!
O mulá respondeu:
- Não percebem nada, ignorantes. Dou graças a Deus porque o burro se perdeu quando eu não estava em cima dele!”

2 comentários:

  1. A grande questão do humor não se prende com o "nível de tolerância ou abertura" dos indivíduos ou da sociedade em si, na maioria do casos a questão prende-se sim com a questão da estigmatização, estereotipação e discriminação que está inerente, muitas vez de forma bem mais explícita do que se deseja.
    Estes exemplos que citaste são evidências de isso mesmo. É da nossa natureza categorizar, ordenar e valorizar a percepção do "outro" face ao "eu" mas também ao "nós", tudo isto particularmente durante a nossa infância e juventude, onde somos bombardeados com este tipo de anedotas que nos ajudam a estereotipar e enquadrar o mundo face a nós mesmos, e àqueles que se circunscrevem no nosso meio.
    O verdadeiro humor, aquele que eu, e repito, eu mais valorizo, isto porque o anterior também me faz rir naturalmente, é aquele que parte não da chacota do outro diferente mas do próprio "contador", ou seja, fazer rir outros ao explicar como tropecei numa casca de banana é-me mais interessante do que construir uma história em torno de outro (como um alentejano, cigano, nortenho, etc.) de forma a que a chacota seja sobre aquele outro, outro bem "distante de mim"!

    Edgar B.
    PS: a minha predilecta desta lista é a primeira!

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  2. DIÁLOGO
    Jeová a Lúcifer,em diálogo fervente/desabafa:
    -Vou enviar outro Dilúvio!/O Mundo que criei é muito indecente!/-Apoiado!diz Lúcifer com infernal eflúvio. Mas Lúcifer que é mais empreendedor/diz:-Tu podes delegar essa tua vingança/no Tio Sam,que é,do Mundo,o senhor/
    ou no Sionismo,que é da tua confiança.
    -Talvez tenhas mesmo muita razão/pois quem segue a Lei,são os sionistas/que,com os ianques que são Globalistas/podem instalar na Terra,a jeóvica civilização. O Lúcifer,à socapa sorrindo controverso/diz:-O bicho-homem que por ti foi criado/está com ideia de se instalar na Lua/e se tu te descuidas,êle põe-te na rua/
    o Homem deseja ser senhor do Universo.
    -Bem,as Tábuas da Lei que dei a Moisés/
    êle também não respeitou a obrigação/
    pois partiu-as,até as calcou aos pés/
    embora manifestasse depois contrição.
    Diz Lúcifer:-A Palestina,Terra da Promissão/
    como tu segredaste ao Moisés Condutor/
    está a ser palco de tragédias e terror/
    entre dois Povos descendentes de Abraão.
    -Daí a razão de eu querer alagar a Terra/
    arrependido que estou da sua Criação./
    -Mas não te rales,pois a próxima guerra/
    será talvez de completa destruição.
    -Mas então o meu Povo escolhido?!/
    -Não te preocupes com êsse promenor/pois o Tio Sam que é o Capitão-Mor/tem tudo planeado no
    exacto sentido.
    Enviar um Dilúvio,não vale a pena/pois a Humanidade em sua loucura/vai cavando a sua própria sepultura/com guerras ferozes e vida obscena.
    -Mas tu até pareces dar-me o apoio!
    -Eu conheço,do Mundo,a pulhice/
    e do bicho-homem,a humana maldade/
    e nós implicados na bíblica intrujice/
    que traz enganada a Humanidade/
    não conseguimos separar o trigo do joio.

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