Hoje, pelo menos em Portugal, devido ao pretenso laicismo das nossas instituições públicas, para validar um testemunho não precisamos de jurar sobre ou por algo - um objecto por exemplo. No entanto, em alguns países ainda se jura, por exemplo, sobre um livro sagrado.
Composição nº61 - Alexander Rodchenko |
Esquecendo para já este primeiro parágrafo, este texto pretende fazer uma pequena incursão sobre a etimologia dos termos relacionados com a acção de testemunhar. Existem várias teorias - um pouco para todos os gostos - sobre a origem desta acção. Helder Guégués (1) afirma que a palavra "testemunha" provém do latim, de "testis" que significa algo semelhante a "teste", refere também, indo linguisticamente ainda mais ao passado, que este termo latino deriva por sua vez do termo Indo-europeu "tris", que se relaciona, por exemplo, com o "tree" do inglês actual, ou seja árvore - uma acepção com alguém de conduta sólida, com os "pés bem assentes na terra", imparcial e justo. Mas Helder Guégués vai ainda mais longe, afirma também que "testis" está na origem da palavra "testículo", e remete a origem do nome para o facto desse órgão atestar a masculinidade de um individuo - algo de extrema importância na antiguidade pelo facto das sociedades serem profundamente patriarcais.
Reinaldo Pimenta (2), no livro "A Casa da Mãe Joana" - uma obra sobre curiosidades etimológicas, afirma que o termo latino "testis" originou os termos "testimoniu" e "testiculu". Refere o autor (2) que a palavra "testis", formada de uma variação de "tri" (três) + "sto" (estou), significa algo como: “que está ou assiste como terceiro”. Diz (2) também que a terminação "culu" era usada para fazer diminutivos. Assim, a palavra "testiculu" teria sido formada para significar "pequena testemunha".
Reinaldo Pimenta (2), no livro "A Casa da Mãe Joana" - uma obra sobre curiosidades etimológicas, afirma que o termo latino "testis" originou os termos "testimoniu" e "testiculu". Refere o autor (2) que a palavra "testis", formada de uma variação de "tri" (três) + "sto" (estou), significa algo como: “que está ou assiste como terceiro”. Diz (2) também que a terminação "culu" era usada para fazer diminutivos. Assim, a palavra "testiculu" teria sido formada para significar "pequena testemunha".
Círculo Branco - Alexander Rodchenko |
Também o sitio da Internet "Ciberdúvidas" (3), citando o "Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa", de José Pedro Machado, refere que o termo testemunhar advém do termo latino "testemoniare", que derivou de "testemoniu" (testemunho, depoimento ou prova). Mas, por outro lado, esta fonte não segue pelas mesmas constatações que as anteriormente citadas, diz até que nada se pode concluir sobre a relação ente testemunha e testículo, limitado-se a referir que o termo latino "testiculu" significa: testículo; orquídea; planta.
Apesar das palavras testemunho e testículo terem cada uma a sua raiz latina, isso não exclui que ambas as raízes etimológicas dessas mesmas palavras se relacionem.
Ainda no "Ciberdúvidas" (3) a explicação continua através do recurso a outro autor, o brasileiro Deoníso da Silva que escreveu a obra "A Vida íntima das Palavras - Origens e Curiosidades da Língua Portuguesa". Novamente se volta à origem da palavra "testis" - "que está ou assiste como terceiro"(2)- e da palavra "testiculu" - "pequena testemunha" (2). Deoníso da Silva (3), para explicar a relação que temos tentado analisar, relembra o modo como se davam os nascimentos na antiga Roma. Nessa altura, segundo este autor, um nascimento era sempre um acto presenciado por testemunhas, que serviam para atestar o sexo da criança. Esta necessidade de certificação era de extrema importância, pois se o sexo da criança fosse masculino significaria que a família teria continuidade - ainda hoje em alguns países as crianças herdam apenas o nome do pai. Assim, essa acto social surge como mais uma possível explicação para o modo como esses distintos órgãos sexuais [os testículos] podem ter ganho tal nome, por "assistirem o pénis" e por "atestarem" a masculinidade.
Aqui fica mais uma curiosidade etimológica sem conclusões absolutas. Podemos apenas afirmar que pode existir uma relação directa entre testemunho e testículo, mal tal não é garantido.
Ainda no "Ciberdúvidas" (3) a explicação continua através do recurso a outro autor, o brasileiro Deoníso da Silva que escreveu a obra "A Vida íntima das Palavras - Origens e Curiosidades da Língua Portuguesa". Novamente se volta à origem da palavra "testis" - "que está ou assiste como terceiro"(2)- e da palavra "testiculu" - "pequena testemunha" (2). Deoníso da Silva (3), para explicar a relação que temos tentado analisar, relembra o modo como se davam os nascimentos na antiga Roma. Nessa altura, segundo este autor, um nascimento era sempre um acto presenciado por testemunhas, que serviam para atestar o sexo da criança. Esta necessidade de certificação era de extrema importância, pois se o sexo da criança fosse masculino significaria que a família teria continuidade - ainda hoje em alguns países as crianças herdam apenas o nome do pai. Assim, essa acto social surge como mais uma possível explicação para o modo como esses distintos órgãos sexuais [os testículos] podem ter ganho tal nome, por "assistirem o pénis" e por "atestarem" a masculinidade.
Aqui fica mais uma curiosidade etimológica sem conclusões absolutas. Podemos apenas afirmar que pode existir uma relação directa entre testemunho e testículo, mal tal não é garantido.
Amarelo e Vermelho - Alexander Rodchenko |
Acabo este texto sem resistir a fazer aqui uma observação que se relaciona com o primeiro parágrafo: seria engraçado ver alguém, especialmente num tribunal, a jurar pelos seus testículos - numa relação com o próprio acto de testemunhar -, mas será que hoje - para o bem e para o mal - os testículos valerão tanto como antigamente?
1 - http://letratura.blogspot.com/2006/10/etimologia-testemunha.html
2 - http://www.thalesc.com/blog/2007/12/etimologia_das_palavras.html
3 - http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=12151
Estou a cair de exaustão, por isso perdoem-me qualquer gralha ou erro de circunstância. :)
ResponderEliminarUm especial obrigado os professor Leomel Salvado, do Clube de História de Valpaços, por ter sugerido este tema.
ResponderEliminarAmigo Micael:
ResponderEliminarBem, estou sem palavras! Não porque este post seja, como é, simplesmente Brilhante, tanto no que respeita à sua fundamentação científica como no que toca à pertinência e graça dos respectivos prólogo e conclusão. Nem esperava menos do seu autor, pela qualidade científica e versatilidade cognitiva a que nos tem vindo a habituar ao longo das suas excelentes publicações. Mas fiquei, de certa maneira, surpreendido pela complexidade que afinal a origem etimológica do termo parece revestir-se, a avaliar pela variedade de interpretações filológicas recolhidas – que não deixam de ser igualmente curiosas, algumas delas. Preferia, todavia, que a versão que serviu de motivo a esta pesquisa tivesse sido confirmada, apenas pelo sensacionalismo que ela suscitava. Paciência! Em todo o caso Parabéns pelo trabalho! Será partilhado com a maior brevidade no Clube de História de Valpaços.
Um Abraço
Caro Leonel, verdadeiramente gostava também que as fontes me tivessem levado nesse sentido, mas não foi possível chegar a tal conclusão. Embora no final, a última observação tente colmatar e essa falha... Mas podemos sempre, aliados de um sentido de humor mar acutilante, fazer as nossas próprias interpretações.
ResponderEliminarMuito obrigado pela força e elogios! A verdade é que muito ajudam e dão força para continuar.
AHAHAHHAAH Micael... as suas conclusões partem-me toda! Esperemos que realmente que os testículos não tenham a mesma importância... :))
ResponderEliminarÉ que o Mundo por ser um patriarcado e por a testosterona falar mais alto é que o mundo está como está... o dogma subjugou a mulher e lá se foram as civilizações pacifistas! :)
Como diz o professor Leonel Salvado, o artigo está realmente muito bom, muito bem escrito
e muito interessante!
Consigo Micael, está-se sempre a aprender.
Continue pois, com este seu trabalho de excelência. Dá gosto vir aqui, como já pôde concluir e desculpe se monopolizo... agora que já sou uma "habituée! ai isso sou! :)
Um abraço.
p.s. que é isso de escrever tanto estando extenuado?... assim não vale! :)
É um prazer receber e poder contra-comentar.
ResponderEliminarÉ um prazer escrever, mesmo que estenuado! ;)
eu juro pela cueca que segura o meu testemunho
ResponderEliminarMuito bom o texto Micael!
ResponderEliminarSua irresistível observação final m fez lembrar um trecho do Gênesis bíblico quando Abraão manda seu servo buscar esposa para seu filho Isaque na casa de seu sobrinho. Como Abraão não conhecia pessoalmente os filhos de seu sobrinho tinha medo de ser enganado por seu servo que poderia aparecer com uma mulher da região dizendo que era da casa de seus parentes. Para impedir isso, solicitou a seu servo que jurasse que iria à casa de seus parentes colocando sua mão debaixo da sua coxa (e ai alguns estudiosos afirmam que de fato essa ato não se referia à coxa mas sim aos testículos) para que ficasse de memorial, testemunho de sua promessa.
Muito bom!
ResponderEliminarMuito Bom!
ResponderEliminarEm princípio esta relação à cultura romana é antes da influência judaica-cristã, mas ai está um apontamente interessante também.
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