quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Como a humanidade escolheu as suas mamas

Quando comparados com os nossos primos símios, nós humanos apresentam diferenças físicas distintas associadas à sexualidade. Copulamos ventre com ventre, as fêmeas da nossa espécie podem expressar visivelmente a sua ovulação e o pénis dos machos humanos é também relativamente maior que os pénis dos outros símios. Caro (1987), citando vários autores, faz assim a introdução do seu artigo de abordagem à origem do tamanho das mamas (ou seios) das mulheres.

Caridade Romana - Reubens
Fonte da Imagem: https://pl.m.wikipedia.org/wiki/Plik:Roman_Charity_-_Pieter_Pauwel_Reubens.jpg#/media/File%3ARoman_Charity_-_Pieter_Pauwel_Reubens.jpg

Ao contrário de todos os outros mamíferos, na espécie humano, as fêmeas desenvolvem os seus seios na puberdade, e não durante a primeira gravidez, através de um processo de hipertrofia dos tecidos adiposos do peito. No entanto os seios de gravidas crescem temporariamente nesse período, independentemente do tamanho anterior. Depois de cada gravidez os seios tendem a voltar ao tamanho anterior, ainda que a idade leve a perdas de sustentação e firmeza. Depois de mais esta introdução ricamente citada, Caro (1987) defende que os seios são sinalizadores, porque parte substancial do seu volume consiste meramente em tecido adiposo, com a sua forma a ser facilmente detetável tanto de frente como de lado, tal como pelo contraste de cor dos mamilos perante a pele do peito. O autor refere que nos primórdios da nossa espécie seria valorizável a acumulação de gordura, especialmente nas mulheres e em determinadas áreas do seu corpo, associadas à sexualidade e à reprodução. No entanto, são apenas hipóteses, tal como se irá verificar em muitos dos autores citados.

Em tempos imemoriais terá então ocorrido um processo de seleção sexual com base nas anteriores diferenças físicas citadas (Marlowe, 1998), porque os homens acham os seios atrativos, devido à sua função de acumulação de gordura e potencial de reprodução (Cant 1981; Gallup 1982) uma vez que abaixo de um certo limiar de gordura as mulheres não podem ovular (Cohen 1980; Frisch 1978). Embora alguns autores prefiram a seleção mais relacionada com a geração de descendência que com a sexualidade propriamente dita, numa abordagem geral as hipóteses não variam assim tanto. Hoje este fator de atratividade pelo simples facto de estarmos perante uma acumulação localizada de gordura causa estranheza.

Autores como Morris (1967) já sugeriam que o acumular de gordura no peito, ancas e rabo seriam formas de proteger a mulher durante a copulação, peito com peito. Outros, tal como Campbell (1974) sugerem que estas caraterísticas foram sendo preservadas e amplificadas por seleção sexual intencional, em que as mulheres que evidenciavam essas caraterísticas tendiam a ter mais descendentes, ao demonstrarem, através de atributos físicos, o seu suposto potencial de reprodução. Outros autores seguem uma abordagem funcional ainda mais pragmática, tal como LeBlanc & Barnes (1974), que referem que os seios grandes permitiam amamentar enquanto agarravam e transportavam os filhos. Outra possibilidade seria que o tamanho poderia ter influência na capacidade de produzir leite, no entanto isso está por provar (Caro, 1987). 

Cant (1981) e Gallup (1982) referem que a acumulação de gordura depositada nos seios, ancas e rabo indicam reservas nutricionais, altamente úteis para a reprodução, com Masia-Lees et al. (1986) a referirem que a permanência dessas fisionomias resulta de processos de seleção, seguindo as mesmas lógicas dos autores anteriores (Low et al., 1987). Low et al. (1987) acrescenta a estas abordagens o um foco no engano e dissimulação, porque a gordura acumulada nesses locais induz a um aumento da produção de leite e ao alargamento dos ossos pélvicos que facilitariam o parto, mas que na prática não é o que aparenta ser. Outra evidência que os autores também referem é que as mulheres de culturas e ambientes climáticos distintos, por exemplo naqueles que obrigam a usar mais roupa como os ambientes em que vivem os esquimós, estas curvas femininas são em média menos pronunciadas. 

Para (Marlowe, 1998) os seios grandes são sinalizadores de idade, firmes na juventude e tendendo para o descaimento à medida que a vida avança, revelando a reduzida apetência para a produção de descendência a partir de determinada altura da vida, tendo um efeito erótico variável. 

Depois de toda esta exposição devemos ficar com as devidas dúvidas e ressalvas. Os próprios autores indicam serem hipóteses, embora pareçam muito plausíveis e assentando em deduções sólidas. Independentemente disso, sabemos do poder da humanidade para mudar os ambientes e das suas capacidades adaptativas a esses mesmos desafios ambientais. Essa capacidade terá sido tanta, tal a nossa flexibilidade como espécie, que até conseguimos enquanto coletivo mudar a fisionomia dos géneros, escolhendo o formato dos nossos corpos. Para refletir.

Referências:
Cant, J.G.H. (1981). Hypothesis for the evolution of human breasts and buttocks. American Naturalist, 117: 199-204.
Campbell B. G. (1974). Human Evolution, 2nd edition. Chicago: Aldine.
Cohen, M. N. (1980). Speculations on the Evolution of Density Measurement and Population In Homo Sapiens. In Biosocial Mechanisms of Population Regulation, M. N. Cohen, R. S. Malpass, and H. G. Klein, eds. Pp. 275-304. New Haven: Yale University Press.
Caro, T. M. (1987). Human breasts: Unsupported hypotheses reviewed. Human Evolution, 2(3), 271-282.
Frisch, R. (1978). Population, Food Intake, and Fertility. Science 199:22-30.
Gallup, G.G. (1982). Permanent breast enlargement in human females: A sociobiological analysis. Journal of Human Evolution, 11: 597-601.
Le Blanc S. A. & Barnes E. (1974). On the adaptive significance of the human breast. American Naturalist, 108: 577
Low, B. S., Alexander, R. D., & Noonan, K. M. (1987). Human hips, breasts and buttocks: Is fat deceptive?. Ethology and Sociobiology, 8(4), 249-257.
Marlowe, F. (1998). The nubility hypothesis. Human Nature, 9(3), 263-271.

Morris, D. (1967). The Naked Ape. London: Jonathan Cape.

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