Voltando aos temas da origem de determinas palavras vamos entrar no domínio do urbanismo. Qual a origem do termo “urbano”?
Consta que o substantivo urbano advenha do latim, da palavra "urbs", que significava cidade e tinha uma relação com à delimitação da cidade de Roma, do "urbum" que lhe definia os limites. Os romanos utilizavam o arado (ulmus aratri) para traçar os limites de um novo colonato. Traçavam o limite numa terreno livre de modo a criar uma área confinada para nela se construir a nova cidade, que iria albergar os lotes, arruamentos, praças e outros elementos urbanos (1). Para além disso os romanos faziam muitos outros rituais de consagração da própria proto cidade.
Este conceito romano diverge e afasta-se do termo grego “polis”, que significa cidade mas aponta mais para o sentido de comunidade humana. Isto poderá servir para nos questionarmos para a forma como ambas as comunidades viam as cidades e as suas comunidades urbanas, se era o contexto social que definia a cidade ou se era a forma da cidade que definia o contexto social.
Por outro lado, os romanos utilizavam de um modo mais abrangente o termo "civitas" também como sinónimo de cidade, com o conceito a aproximar-se mais do conceito alargado da "polis" grega. De notar as aproximações e relações do termo "civitas" com civismo, civilidade, civilização, etc., estando tudo relacionado mais com a cultura e comportamentos que com uma dimensão material, embora a palavra “urbanidade” seja igualmente comportamental.
A gestão das cidades a partir da época contemporânea, mais concretamente de Ildefons Cerdá com o seu famoso plano de Barcelona de 1855 e de Haussmann em Paris em 1860, foram definidas como intervenções urbanísticas, em grande relação com o desenho e organização funcional material da cidade.
Desde então a gestão das cidades mudou muito mas continua a ser definida como “urbanismo” e não “polismo” ou “civitismo”. Claro que parece anedótico e é uma brincadeira, até porque o urbanismo não se define hoje em dia pela relação direta com o termos latinos que lhe deram origem, mas parece evidente que fez um caminho para se libertar da inflexão do traçado e passar a assumir, de uma forma integrada e interdisciplinar, as questões sociais, ambientais e outras. Cada vez mais a gestão das zonas urbanas quer ser sustentável em toda a dimensão disciplinar que o termo comporta, sendo o traçado um dos elementos para chegar a esses fins, não o fim em si mesmo.
Fica a curiosidade da origem do termo e de quanto ele pode ter influenciado uma prática.
Referência bibliográfica:
[1] Francesco Bandarin & Ron Van Oers - The historic urban landscape: managing heritage in a urban century. Oxford: Wiley Blackwell, 2012. p107