quarta-feira, 25 de julho de 2018

Ser ignorante da sua própria ignorância: o efeito Dunning-Kruger

Quase por acaso, numa daqueles exemplos positivo da utilização das redes sociais, deparei-me com um vídeo que explicava o efeito Dunning-Kruger. Trata-se de um efeito tão surpreendente como natural. Quase todos já experimentamos na primeira pessoa os casos associados a este fenómeno. 

Retrato de Antonietta Gonzalez - Lavinia Fontana

Atualmente tendemos a especializações técnicas e de conhecimento, pelo que será provável que cada um de nós seja mais especialista numas coisas que noutras, quer seja pela via da experiência do saber-fazer quer pelo estudo académico e teórico, sem com isto querer tornar as duas vertentes antagónicas, pois são obviamente complementares. Com as normais interações sociais, ainda mais intensas na dira “era da informação” em que vivemos, deparamo-nos com conversas cruzadas entre especialistas e não especialistas sobre quase tudo. Nem sempre os não especialistas, mesmo os totalmente leigos, se coíbem de afirmar, com toda a certeza, verdades absolutas. Gera-se um efeito de superioridade ilusória, que costuma ser alimentada pelas relações de poder sociais, que habitualmente nada têm que ver com o poder emanado do saber e conhecimento em causa. É um fenómeno atualmente estudado pela psicologia e sociologia comportamental.

O efeito Dunning-Kruger refere-se aos casos em que a ignorância e incompetência num determinado saber ou assunto impede que se percecione o próprio nível de desconhecimento nessa área. Lembram-se da famosa expressão atribuída a Sócrates “Só sei que nada sei” ? É mais ou menos isso. Quem sofre do efeito Dunning-Kruger pode estar convencido que sabe exatamente o que afirma e defende, não por ter argumentos e conhecimento sólidos, mas por não os ter no nível mínimo que o faria duvidar do pouco que sabe. No fundo, não ter determinadas competências num assunto implica não ter também as competências para se saber que não se sabe desse assunto.  Por outro lado, o efeito Dunning-Kruger pode gerar também insegurança nos reais detentores de conhecimento, pois, perante a imensidão do saber, pode dar-se a sensação de nunca se saber de facto nada, tal é a imensidão e perceção do que há por saber. Complicado? Nem por isso. Até é bastante simples, talvez seja uma questão de horizontes e experiência pessoal, mas que pode ser amplificado quando quem sofre estes efeitos ocupa ou exerce posições de poder. Pode ser a justificação para uma imensidão de más decisões, más lideranças, más estratégias, maus projetos e falhas de desenvolvimento de organizações, instituições, empresas e governos. O fenómeno pode acontecer e ter efeitos nefastos na nossa vida pessoal, relações sociais, nas famílias, associações, partido políticos, movimentos cívicos e sociais, na gestão da causa pública. Pode ser simplesmente um fenómeno muito irritante numa conversa informal, que nos irrita, mas onde pouco se poderá fazer porque simplesmente não vale a pena a chatice de discutir com a teimosia de quem acha que sabe tudo e nada mais tem a aprender.

Estamos perante um tema atual de investigação cientifica e académica que tem tentado explicar estas situações que muitos de nós podem já ter presenciado na primeira pessoa. Este fenómeno foi inicialmente estudado por Justin Kruger e David Dunning, que na altura desenvolveram as primeiras investigações na Universidade de Cornell, tendo dado origem a uma publicação em 1999 que marcou as investigações posteriores, feitas pelos próprios autores como por novos investigadores.

Pode ser que um dia se encontre uma solução para isto. Mas esperem lá, já existe a escola e as múltiplas formas de formação em todos os níveis, tal como os fenómenos de aprendizagem cultural em sociedade…


Vídeo resumo de Francisco Baptista no Facebook




Referências bibliográficas:

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