quinta-feira, 31 de março de 2016

Felicidade no Trabalho – Um documentário de Martin Meissonnier

O trabalho é um dos pilares da vida contemporânea. Desde que o capitalismo traduziu o trabalho em valor, indiretamente, transacionável colocou-o sob pressão. Ou seja, modificou as relações de trabalho e submeteu os trabalhadores a novos desafios.

Os trabalhadores de hoje estão cada vez mais submetidos ao “turbocapitalismo” e ao desenvolvimento económico mundializado onde se diluem restrições, direitos e as velhas estruturas laborais. São imensos os casos de trabalhadores em situações insustentáveis, tanto na dimensão salarial mas especialmente pela pressão do stress.
 

O presente texto não é um manifesto político ou sindical. Nada disso. Serve de introdução ao documentário “Felicidade no Trabalho”, realizado por Martin Meissonnier, em 2015. O que torna esse filme especialmente interessante é a inversão do problema. Foca-se na solução para os problemas laborais através do recurso à felicidade. Fá-lo recorrendo a vários exemplos de empresas e instituições que se modernizaram e melhoraram a sua produtividade e desempenho através dessa estratégia. Centrar o funcionamento da empresa na garantia da felicidade dos trabalhadores demonstrou ser capaz de recuperar empresas/instituições em situação difícil e torna-las casos de sucesso com o devido retorno económico para trabalhadores, proprietários e investidores.

Passemos a alguns dos exemplos que levaram ao sucesso:
• Envolvimento dos trabalhadores em todas as atividades da instituição, especialmente na decisão de funcionamento e estratégia geral;
• Organização horizontal, evitando uma fria e distante hierarquia vertical;
• Valorização do potencial e capacidades individuais dos trabalhadores, incluindo recompensas financeiras e outras vantagens quando contribuem para o melhor desempenho da instituição;
• Responsabilização e autonomia nas tarefas e funções de cada trabalhador;
• Participação na escolha das chefias, predispostas para modelos colaborativos contínuos e em melhoria constante;
• Flexibilidade nos horários, possibilidade de trabalho à distância, respeito pelo ritmo individual de cada trabalhador e trabalho orientado para objetivos;
• Sentimento de que as funções que os trabalhadores desempenham são socialmente benéficas e importantes.

Estes são apenas alguns exemplos generalistas que se podem resumir os casos concretos de empresas descritas no documentário. De notar que algumas empresas já fazem isto em Portugal, mas são exceções, pelo que seguramente haveria muito a ganhar em produtividade tal como se demonstra nos casos de sucesso identificados.

Em jeito de conclusão importa lembrar mais alguns dados que o documentário enuncia. Lembra que passamos maior parte do nosso tempo ativo a trabalhar, mais que em lazer, família e outras atividades. Que as sociedades ocidentais têm assentado numa cultura democrática e de respeito pela liberdade e individualismo, mas que nas empresas e instituições essa mudança não ocorreu. Que o choque de gerações é evidente, no caso concreto da geração Y isso é notório, em que os modelos rígidos de organização do trabalho não têm em conta as mudanças sociais e de mentalidades das novas gerações. Esses novos trabalhadores valorizam mais a flexibilidade, criatividade, independência e o propósito das funções laborais assumidas que a estabilidade e a remuneração como o principal valor para garantir a felicidade e realização no trabalho.

Tendo em conta uma realidade europeia, o documentário refere que somente cerca de 10% dos trabalhadores são felizes no trabalho. Que para 60% deles o trabalho é-lhes indiferente e que os restantes 30% simplesmente detestam o que fazem. Se os trabalhadores só atribuem ao salário cerca de um terço das razões para serem felizes, tudo o resto dependerá daquilo que já se enunciou como medidas a implementar para melhorar a felicidade no trabalho e produtividade das empresas e instituições. Trabalhadores desmotivados, stressados e contrariados não contribuem para a produtividade das empresas/instituições. No fundo é bastante simples.

Assim, o documentário comprova que compensa, tanto pela saúde psíquica dos trabalhadores como pelos ganhos económicos, apostar na felicidade dos trabalhadores, seja em que ramo de atividade for, quer seja nos sectores públicos ou privados.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Hannah Arendt - um filme para filosofar e conhecer uma época

Ver um filme para tentar aprender algo sobre filosofia costuma não dar em grande coisa. Há poucos filmes sobre filósofos e os poucos que se fazem nem sempre chegam aos espectadores. Mas há sempre canais que conseguem romper com essas tendências gerais. A RTP2 é um desses casos. Recentemente exibiram o filme “Hannah Arendt “, de Margarethe Von Trotta.


Trata-se de um filme que retrata partes da vida da famosa filósofa. Explora a personalidade dessa mulher, considerada por muitos uma das principais e mais influentes filósofas do século XX, ainda que a própria nunca se tenha verdadeiramente assumido como tal. O enredo incide sobre o período em que Arendt acompanhou o julgamento de Eichmann pelo recém-formado Estado de Israel. Seria suposto fazer apenas um artigo para a revista New Yorker, de estilo jornalístico, mas Arendt foi muito mais fundo que isso, filosofando sobre a “Banalidade do Mal”. Esse artigo, que mais tarde daria origem a uma das suas mais famosas obras, constata que a desumanização do ser humano, quando privado de pensamento crítico próprio, pode levar a que uma pessoa comum cometa os atos mais horríveis como sendo algo banal, sem que a isso esse sujeito seja de facto um ser especialmente diabólico. Esta conclusão surge na sequência de estudos anteriores de Arendt, sobre "As Origens do Totalitalismo”, mas ganha corpo depois de analisar “A Banalidade do Mal” de Eichamann, um burocrata que cometeu crimes contra a humanidade sem remorsos, por simplesmente achar que estava a fazer o seu papel, a cumprir o seu dever perante o Reich.

Hanna Arendt tinha origem alemã e judia. Tinha sido presa e por pouco não foi também ela deportada para os campos de concentração e para a morte. Consta que terá sido o seu amante de juventude, o filosofo Heidegger que a terá salvo, ele que era um simpatizante nazi. Terá sido depois da guerra Arendt a ajudar a sanear o antigo amante e mestre, evitando os processo que aconteceram a outros nazis.

 Há que lembrar que Eichmann foi um dos responsáveis do sistema de extermínio em massa do povo judeu. A capacidade de uso da razão que Arendt terá tido perante aquela confrontação com Eichmann, é notável. Ainda hoje os judeus desconsideram Arendt por ter criticado nos seus escritos as lideranças dos judeus no tempo do holocausto e de ter racionalizado o ódio que todos queria manifestar e corporizar contra a figura de Eichmann. Acusaram-na de ser friamente racional.

Hannah Arendt é um daqueles filmes para quem quer conhecer uma época e uma personalidade importantíssima do pensamento do século XX. O desempenho dos atores é irrepreensível, especialmente de Barbara Sukowa, no papel de Hannah Arendt. Boa fotografia e ambientes credíveis, com uma acção a ritmo próprio para pensar. De notar o recurso  a excertos do próprio julgamento de Eichmann, dando quase uma dimensão documental ao filme.

terça-feira, 15 de março de 2016

Porque tem Fevereiro menos dias?

Cada civilização, ou cultura, na antiguidade tinha o seu calendário. Muitos seriam lunares outros solares. O primeiro calendário romano era lunar e de apenas 10 meses, criando várias deturpações na contagem do tempo tal como hoje o consideramos. Por seu lado, os egípcios usavam um calendário solar, muito mais exato segundo os padrões atuais.
 
Manhã de Fevereiro em Moret-sur-loing - Alfred Sisley
 
Os romanos são conhecidos pelo seu empreendedorismo e capacidade de adaptação e aprendizagem com os povos com quem interagiam e conquistavam. Imensos aspetos da vida e culturas romanas foram herdado e adaptados. O calendário é um desses exemplo. O próprio conceito de património e herança é próprio do direito romano.
 
Terá sido Júlio Cesar a adotar o calendário solar, passando o ano romano a ser composto por 12 meses base, mas continuavam a existir o problema do ajuste certo dos dias à duração do ano. Um ano tem sensivelmente 365,2425 dias. Ou seja, por cada ano que passa, adotando um calendário de 365 dias vai acumulando um erro de um quarto de dia sensivelmente. Daí a necessidade de criar os anos com diferentes números de dias. Para o calendário Juliano existiam sequências de 24 anos em que cada ano tinha respetivamente: 355, 377, 355, 378. Isto obrigava a que de dois em dois anos os dias do mês de Fevereiro diminuíssem e se adicionasse um mês adicional. À exceção do mês adicional excecional, o Mercedônio. Oficialmente o ano terminava em Fevereiro, o mês que se tinha de adaptar à duração do ano solar. 
 
Para os romanos o ano começava com o mês dedicado a Marte, ao deus da Guerra pois era com a primavera que se iniciavam as campanhas militares que tornaram Roma uma potencia imperial.
 
Foi somente, muito mais tarde, com o calendário Gregoriano, por ordem do Papa Gregório XIII, em 1582, que se optou pela atual organização de calendário. Ainda que Fevereiro tenha deixado de ser o último dia do ano, continuou a ser o mês dos ajustes solares. Apesar de ser mais exato que os anteriores, o calendário Gregoriano apresenta erros, sendo que a cada 3000 anos avança um dia a mais.
 
Ver mais em:
 

terça-feira, 1 de março de 2016

Corrupção, moral e ética - definições e relações

Como se relaciona a corrupção com a ética? Qualquer desonestidade ou comportamento desviante moral, mesmo que pequeno e aparentemente pouco significante, será corrupção?

 Partamos então para aos significados das palavras de modo a ensaiar uma conclusão, utilizando uma fonte isenta e de uso comum: um dicionário online, neste caso o da Porto Editora.
 
Vaca com chapéu de sol - Marc Chagall
 
Corrupção significa, no sentido literal: decomposição física de alguma coisa, modificação das características originais de algo, uma adulteração. Ou seja, uma mudança para um estado de qualidade inferior, caso contrário a modificação não seria adulteração mas melhoria e/ou aperfeiçoamento. Existe também um significado figurado para corrupção: que é o acto de corromper a moral, de gerar uma perversão.

De notar que ética e moral são comumente utilizados como sinónimos, com os próprios dicionários a referir isso mesmo.

Será a filosofia a insistir na distinção entre moral e filosofia. No mesmo dicionário, a Ética é “aquela disciplina que procura determinar a finalidade da vida humana e os meios de a alcançar, preconizando juízos de valor que permitem distinguir o bem do mal”. A ética pode ser também um código moral ao deontológico. É através dessa codificação que a ética se pode transformar em moral, através da regulamentação e codificação, quando os juízos de valor são pré-estabelecidos, para que se defina aquele comportamento moral que é sinónimo de bem e o imoral que corporiza o mal. A ética tem como objetivo distinguir o bem do mal, criando uma “dialética” própria. A moral pretende instituir o bem e condenar o mal, segundo um conjunto pré-determinado de juízos de valor.

Se a corrupção é um comportamento, ação e atitude humana, que adultera e cria uma perversão a um estado original ou ideal bem definido e codificado, isso ocorre ao nível da moral. Mas essa moral pode ser apenas perversão ética, caso não esteja adaptada às necessidades e objetivo da vida humana. A humanidade é uma espécie em mudança constante, quiçá evolução em determinados casos, pelo que a rigidez moral terá de se adaptar a essa natureza dinâmica, sendo que tal mudança imperativa se dará através das ferramentas da ética.

Se a corrupção é uma perversão da moral, adulterando a conduta íntegra de quem a pratica para um estado moral pior, também o é da ética, pois, em última instância, a moral é um produto do pensamento e construção ética. O que está em causa não é a dimensão ou a gravidade do ativo de corromper, mas a noção de que a corrupção é sempre um desvio em relação a um estado ideal inicial de valores.

A corrupção é sempre uma degeneração, uma mudança para um estado pior, independentemente do assunto, do tema ou do caso concreto. Nos comportamentos humanos é sempre um assunto do foro da ética.

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