terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Uma Simplificação Arriscada de Lipovetsky: Um Filósofo das Coisas Banais e da Nossa Vida Atual

Lipovetsky é um filósofo francês, conhecido conferencista, escritor e professor na Universidade de Grenoble.

Participou nos movimentos culturais e intelectuais do Maio de 68 em França, mas desde logo ultrapassou o marxismo para definir novas orientações e maneiras de interpretar o mundo. É o próprio que diz: “Só os idiotas nunca mudam de opinião”.
 
Fonte: http://www.lenouveleconomiste.fr/
É um dos mais famosos e importantes filósofos contemporâneos. Muitos consideram-no um “átomo livre”, um pensador polémico que não hesita em desconstruir a filosofia dos filósofos para a aproximar das pessoas e da actualidade.

Tem-se destacado pela reflexão sobre o mundo contemporâneo, mais concretamente nos temas do individualismo, liberdade, consumo, moda, mercados e outros. Em geral, tem-se dedicado ao estudo do capitalismo e seus efeitos positivos e negativos. Ao contrário de outros filósofos, Lipovetsky parece gostar de tratar as coisas banais, para desconcerto de muitos.

Tem imensas obras publicadas, quase todas traduzidas para português, sendo utilizadas quer por curiosos quer pelos meios académicos. Referem-se então, de um modo quase criminosamente simples, algumas das suas reflexões.

Na “Era do Vazio” e “Império do Efémero” lembra as características das sociedades de consumo capitalistas onde pouco persiste, quase tudo é efémero, gerando-se o vazio entre o frenético da novidade.

Em “O crepúsculo do dever” fala das modificações dos sentimentos de dever, do individualismo no confronto das sociedades com as tradições impostas.

Em “Os Tempos Hipermodernos” defende a tese de um novo termo ("híper") para definir esta nossa época de excessos, do “híper tudo”, do híper consumo, das híper relações, do híper mediatismo da informação.
Na “Sociedade da deceção” refere-se à desconstrução social operada pelo capitalismo, da ilusão individual do tupo poder em potência, mas do, aparentemente, quase nada conseguir para muitos nas sociedades ocidentais (hipermodernas).

Em todas estas obras, e em muitas não outas não citadas, estão sempre presentes os temas da liberdade, individualismo e o fim último que é a felicidade. O capitalismo, apesar de poder parecer, não é demonizado, mas expiado. Se traz malefícios também se relaciona com a democracia e liberdade.
 
Para Lipovetsky, sem capitalismo não há consumo, não há democracia nem liberdade, estando tudo relacionado. É a liberdade - sem juízos de valor associados ao termo - que gera todos esses excessos e híper novos estados e estádios da condição humana. Querer mudar isso é atentar contra a própria liberdade. Mas alerta que nada disto é um fatalismo. A humanidade pode continuar a ser uma comunidade social com projetos comuns, simplesmente só o será e terá tais projetos se em liberdade os pretender.
 
Se o capitalismo é expiado será para lhe fazer a apologia de ser o motor da liberdade e da democracia, através do consumo. Esta opção gera um paradoxo intencional: a crítica do "turbo capitalismo" que desequilibrou o poder entre Mercados e Estados. Lipovetsky também crítica esta mudança, não desligando da sua matriz marxista, pedindo um novo equilíbrio para afinal, como bem identificou: garantir a liberdade e felicidade humana.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A importância da expansão marítima portuguesa para o desenvolvimento dos proto-museus

A expansão portuguesa e a constituição do seu império colonial ultramarino, assente nas feitorias e na exploração e domínio das novas rotas comerciais promoveu indiretamente o desenvolvimento do conhecimento científico (Godinho, 2008), ainda que não fosse o objetivo principal dessa dita expansão, pois a intenção era muito mais economicista.
 
Gabinete de Curiosidades -  Domenico Remps
Ou seja, apesar de poder ser um mito fabricado a intenção da expansão marítima nacional ter tido razões de interesse  científico, algo desconstruído historiograficamente por Vitorino Magalhães Godinho (2008), o certo é que para a exploração desses novos territórios e rotas comerciais, ao longo dos séculos da exploração, foi necessário efetuar missões de reconhecimento das potencialidades comerciais dos recursos naturais dos vários locais descobertos (Boxer, 2015; Bethencourt; Curto, 2010).
 
Assim, tendo em conta que a aristocracia tinha uma preocupação pela  procura do bizarro e novo, as explorações portuguesas terão contribuído para o enriquecer das coleções reais e senhoriais europeias, onde esses produtos também chegavam como produtos de valor transacionável, quer fossem naturais ou de produção humana. No caso a Coleção de Catarina de Áustria, rainha de Portugal, e da sua coleção de pendor renascentista ligadas a curiosidades e peças históricas, esse gosto especial pelos objetos de origem oriental é comummente aceite (Gschwend, 1993). Infelizmente pouco subsiste dessa coleção hoje em Portugal, uma vez que foi retalhada e separadas pelos vários herdeiros, governantes posteriores e, possivelmente, perdido no terramoto de 1755 e convulsões políticas e sociais posteriores.
 
Podemos dizer então que, mesmo podendo não ser o principal objetivo, a exploração e expansão marítima portuguesa, ainda que indiretamente, teve um papel importante para o avanço da ciência e da própria museologia.

Referências bibliográficas
  • Bethencourt, Francisco & Curto, Diogo Ramada (Corrd.)  A Expansão Marítima Portuguesa 1400-1800. Lisboa: Edições 70, 2010.
  • Boxer, Charles Ralph. O Império Marítimo Português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 2015.
  • Godinho, Vitorino Magalhães. A Expansão Quatrocentista Portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 2008.
  • Gschwend , Jordan Annemarie. Catarina de Áustria: Coleção e Kunstkammer de Uma Princesa Renascentista. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993.
 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Decifrando o Estado Islâmico - Um documentário sobre propaganda contemporânea


Dos muitos documentários que atualmente passam nos canais da especialidade em Portugal, infelizmente poucos são os que merecem ser vistos. Mas, felizmente, há sempre exceções. Uma delas é documentário “Decifrando o Estado Islâmico”, exibido no canal Odisseia, da autoria de Riccardo Mazzon, Antonio Albanese e Graziella Giangiulio.


Muitos programas falam do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Daesh), mas este documentário ganha especial interesse. Isto porque exibe informações, muito pouco conhecidas, sobre o modo como funciona a propaganda do Daesh, algo que não chega ao comum espectador ocidental.

A máquina de propaganda do Daesh é profissional, produzindo conteúdos em vários formatos. Os vídeos são chocantes, não tanto pela violência que exibem, mas pelo simples facto de existirem e e retratarem situações reais. Ou seja, a máquina de propaganda do Daesh é incrivelmente forte e sofisticada no modo como alia a técnica à mensagem. Recorrem a técnicas cinematográficas vistas em filmes de qualidade mundial, tudo feito para criar impacto e dimensão épica. Utilizam as mesmas ferramentas do marketing e comunicação utilizadas no ocidente para fomentar o consumo e entretenimento. Utilizam esses meios aplicados ao terror.

Ao contrário do cinema, que tenta simular a realidade, a propagando do Daesh usa a realidade para simular o cinema de acção épico, criando imagens poderosas. Só vendo para acreditar. Mas esses conteúdos, talvez corretamente, são censurados no ocidente, pois servem efectivamente para recrutar jovens ocidentais susceptíveis à sua mensagem. Publico não faltará, uma vez que nas sociedades pós-modernistas os valores estão em contante reformulação e por vezes é difícil definir uma identificação colectiva e individual. Os efeitos do capitalismo consumista e individualista e das políticas falhadas de integração social contribuem também por sua vez para o problema em causa. Misturando os ingredientes da susceptibilidade dos jovens, do seu desenraizamento, da falta de perspetivas de futuro, de uma busca por identidade e sentimento de pertença, fervor religioso, necessidade de realização e glória pessoal, tal como o efeito da cultura de filmes e jogos de vídeo violentos, criam-se as condições para o jihadismos se desenvolver.

A geopolítica, a história e a religião explicam por sua vez também as razões de existirem territórios e momentos próprios ainda mais propícios para o extremismo islâmico ocorrer. Isso daria, como é óbvio, muito mais que escrever.

Assim , do documentário, pode concluir-se que o Daesh tem usado os meios audiovisuais, as redes sociais e outras ferramentas próprias do mundo ocidental, da seu capitalismo, liberalismo e democracias para derrotar o seu inimigo: o próprio Ocidente.

Dificilmente poderá haver uma solução para este problema enquanto continuarmos a ver o problema somente segundo a matriz de valores do ocidente., ainda mais se de modo sectário.

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