terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A Memória como Ferramenta para o Perdão e Punição

Ao ler o texto de José Carlos da Conceição Coelho sobre a análise da filosofa Hannah Arendt somos levados a interpretar a memória do ponto de vista da justiça. Gera-se uma dicotomia entre perdão e punição que se ligam à memória, ambos com efeitos potencialmente catársicos.

O Regresso do Filho Pródigo - Rembrandt
A memória de um determinado ato pode gerar perdão ou punição, quer seja pelo indivíduo ou pelas instituições de justiça que o representam nas sociedades. O perdão ou castigo têm, em potência, a dupla função de renovar e permitir um novo começo, mas também de reforçar a recordação do passado e ato cometido. Essa recordação permitirá a mudança de comportamento, pelo menos na sua forma idealizada. O castigo pode ser mais severo e simplesmente impedir que o ato seja novamente cometido. Mas em muitas formas de punição há o efeito de redenção que opera sobre e através da lembrança. O mesmo acontece para o perdão. Ambos operam sobre as emoções criando marcos de vida que podem gerar mudanças de comportamento e reabilitações.

A punição poderá gerar um momento tão marcante que faça o indivíduo não querer voltar a repetir o ato para não repetir as consequências que sofreu. O perdão pode ser igualmente marcante por relevar uma capacidade de esperança e valorização do indivíduo perdoado, de que vale a pena esse investimento e aposta. Ambas as vertentes só podem ser concretizadas através da preservação e valorização da memória.

Referência bibliográfica

COELHO, José Carlos. As raízes terrenas do perdão em Hannah Arendt. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2011.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Miséria dos Canais de Documentários em Portugal

Dos imensos programas disponibilizados nos canais de documentários da televisão por cabo em Portugal está cada vez mais difícil encontrar um documentário que valha a pena ser. Infelizmente para nós, telespectadores portugueses, temos poucas alternativas.

Canais como o Discovery, Odisseia e principalmente o Canal de História têm perdido qualidade de uma forma vertiginosa. Grande parte da programação está preenchida com reality shows e programas mais ou menos sensacionalistas, com pouco ou nenhum fundamento científico.

Há uns tempos era muito comum citar aqui alguns dos documentários exibidos nesses canais. Agora nem por isso. Mesmo procurando nas gravações de uma semana inteira pouco se encontra que mereça ser referido.

Isto levou a que criasse a petição “Queremos Canais de Documentários Sérios e de Qualidade em Portugal”. O objetivo desta petição é congregar todas as pessoas que se sentem degradadas com o modo como estes canais têm sido geridos, pois de facto é comum nas conversas diretas e nas redes sociais os comentários a este facto.

Não é habitual partilhar aqui este tipo de textos, mas está em causa de facto um meio para buscar sabedoria. Com a atual programação desses canais dificilmente poderão contribuir para isso.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A origem dos proto-museus: dos tesouros da Idade Média aos Gabinetes de Curiosidades da Idade Moderna

Se os "Schatzmmern" (ou tesouros) se associavam às coleções privadas dos grandes senhores e monarcas, contendo todo o tipo de objetos a que fosse atribuída uma conotação de valor, no sentido de tesouro, na mesma medida estavam relacionados com a itinerância das cortes medievais. Ou seja, a própria coleção teria de ser transportável, uma vez que a corte e governo feudal/senhorial não era permanente (Nicholas, 1999).

Canto de um Gabinete de Curiosidades - Frans Francken II

Por outro lado, os conceitos de "Kunstkammern/Wuderkammern" (gabinetes de curiosidades) ligam-se aos novos poderes instituídos a partir daquilo que é a génese dos primeiros Estados Modernos (Delumeau, 2011), com as cortes permanentes, corpos de funcionários e serventes públicos, exércitos permanentes e capitais formais (Chueca Goitia, 1989; Mumford, 1998).
 Com essa estabilização e sedimentação do poder, que mais tarde dará origem ao absolutismo, facilmente se encontra um a justificação política e social para a estabilização das coleções privadas reais, para o seu desenvolvimento permanente no que seriam os proto-museus, ainda que nessa altura as suas funções ainda estivessem associadas a fins de promoção do poder e prestígio dos seus detentores (Gschwend, 1993).


Referências bibliográficas
  • Delumeau, Jean. “A Civilização do Renascimento”. Lisboa: Edições 70, 2011.
  • Chueca Goitia, Fernando. "Breve História do urbanismo”. Lisboa: Editorial Presença, 1989.
  • Gschwend, Jordan Annemarie. “Catarina de Áustria: Coleção e Kunstkammer de Uma Princesa Renascentista”. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1993.
  • Mumford, Lewis. "A Cidade na História". São Paulo: Martins Fontes, 1998.
  • Nicholas, David. “A Evolução do Mundo Medieval”. Lisboa: Publicações Eurapa-América, 1999.

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