sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Uma lugar para viver – Um filme que faz pensar quando se está naquela fase de vida

Há uns anos lembro-me perfeitamente de José Paulo Alcobia ter recomendado este filme. Como era um filme não tão comercial como é hábito nos filmes americanos que inundam as salas de cinema mais populares, acabei por não o conseguir ver na altura. Recentemente consegui adquiri-lo para a minha cinemateca em DVD e agora foi-me possível apreciar esta obra de arte.
Sim, o filme é simples, mas gracioso, ou seja, uma obra de arte. É simples na história de base, mas muito rico nas personagens e locais que mostra. A música ajuda e a fotografia está perfeita no emolduramento da originalidade das personagens, que o conseguem ser sendo  quase irreais de tão "reais" que são nos seus comportamentos. São personagens humanas, com defeitos e virtudes - ainda que pro vezes exagerados -, em belas fotografias do real. Talvez mais que as personagens, descrevem-se bem as relações humanas, pois, por vezes, parecem ser elas os motivos principais do filme. Sam Mendes consegue criar assim um filme de grande qualidade e originalidade, ainda que simples, sem grandes exuberâncias.
Diria que é uma comédia, inteligente e ao mesmo tempo quase ousada, repleta de críticas a grupos, faixas etárias e personagens que podem ser vistas como alegorias particulares ou de conjunto. Mas pode ser também um drama, pois certas cenas são de facto comoventes.
Por isso, para quem quiser passar um bom momento de cinema no conforto do sofá de sua casa, para depois ficar uns momentos a reflectir nas pequenas e grandes coisas da vida, especialmente para quem está na fase de vida em que procura uma casa para viver, onde, quem sabe, possa construir uma família.
O título original: Away We Go

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Da Igreja Militante à Igreja Triunfante – Acaso ou Premeditação?

Exorcismo dos Demónios em Arezzo - Giotto
De um ponto de vista arquitetónico pode ser muito interessante estudar o modo como evoluíram, e se foram transformando, os edifícios construídos pela Igreja Católica. Para além das transformações resultantes da evolução técnica e tecnológica das construções, da arquitetura e engenharia, existe uma mudança ideológica que acompanhou a materialização dos edifícios. Isto para o período Medieval.
Uma igreja românica, com o seu aspeto pesado, maciço e denso, onde algumas das construções se assemelham muito a castelos e fortalezas, transmite – segundo Gombrich* – a ideia de uma instituição militante. A Igreja, nesses tempos medievais, impunha-se entre terras de camponeses e guerreiros, muitos deles recentemente convertidos. Logo simbolizavam a luta de Deus contras os males do mundo, e também um porto de abrigo em zonas de elevada insegurança. Eram a manifestação de uma Igreja pronta a lutar ao serviço de Deus. Curiosamente, as limitações construtivas, ainda com recurso a espessas paredes, com janelas que mais se assemelhavam a seteiras, todo o suporte em massivos arcos de volta perfeita, e as ameias nas coberturas e torres sineiras pareciam acompanhar a posição ideológica da “guerra religiosa” simbólica.
Com o desenvolvimento do estilo gótico, assente em estruturas muito mais leves, capazes de grandes vãos, e seus arcos quebrados, e com magníficos vitrais que iluminavam os interiores de um modo nunca visto, transmitem a ideia – novamente segundo Gombrich* – de uma instituição triunfante. Estilo que fica ainda mais exuberante com os rendilhados e trabalhados em pedra do gótico flamejante. Ou seja, na população o cristianismo estava já amplamente implementado, sendo que a afirmação da glória da igreja podia ser manifestada com segurança, contribuindo para um aprofundamento da espiritualidade que se podia obter através dos novos espaços imponentemente iluminados. Aqui também o desenvolvimento da arquitetura e engenharia de construção seguiram lado-a-lado a ideologia da instituição em causa, uma vez que até então tinha sido impossível construir edifícios tão grandiosos, com tanta leveza e verticalidade.
Resta saber o que terá dependendo do quê: se a técnica construtiva surgiu como concretização da ideologia religiosa ou se foi a descoberta da técnica a levar à mudança ideológica. Ou então ainda há a opção de não ter sido nada disso, não havendo qualquer relação. A distância que nos separa desses acontecimentos pode simplesmente contribuir para uma visão de ordenação casuística difícil de evitar. Afinal de contas é algo natural em nós pois procuramos sempre construir relações de causa-efeito e ignorando a casualidade extrema. Gostamos de ordenar o mundo, talvez para nos sentirmos mais seguros, mesmo que seja necessário construir edifícios conceptuais vários desprovidos de relação com o real.

* GOMBRICH, E. H., A História da Arte, Lisboa, Ed. Público, 2005

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