terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A arte medieval era "tosca" por opção estética e pragmática

A arte medieval é tendencialmente considerada como um retrocesso face àquela que se praticou na época clássica. As figuras (desenhadas ou esculpidas) tornaram-se rígidas, sem preocupação com as proporções, cobertas de cores não naturais, e sem efeito e perspetiva. Este facto leva a que, numa primeira abordagem, se possa considerar essa arte como “inferior” ou de pior qualidade, comparativamente com o que se produziu em épocas anteriores e posteriores. No entanto isso pode estar muito longe da verdade. Nada nos garante que os artistas medievais não dominassem as técnicas de antigamente, e que não soubessem representar exatamente aquilo que viam, que era a cópia do real tangível.
Exemplo de uma possível pintura românica
São vários os especialistas e as publicações dedicadas à história da arte que defendem exatamente o contrário do senso comum. Os artistas medievais ter-se-ão libertado das amarras do formalismo clássico para experimentar criações mais espirituais e expressivas das emoções. Talvez quisessem uma arte mais simples, segundo os princípios defendidos pela simplicidade cristã. Parece que era muito mais importante a mensagem que se transmitia, exagerando e reforçando certas parte do corpo e omitindo outras. Os olhos eram grandes e expressivos, as mãos assumiam posições quase icónicas que para os homens e mulheres medievais tinham significados próprios. A perspetiva era subvertida para definir hierarquias de poderes e valores. As cenas que facilmente poderiam ser grotescas ou assustadoras eram simplificadas para que se transmitisse apenas a mensagem moralizante. Mais que a realidade comandava a dimensão espiritual. Há exemplos sem fim disto.
Assim, o suposto aspeto tosco e infantil da arte medieval, especialmente da alta Idade Média, pode ter sido apenas uma opção estética e pragmática, especialmente importante numa época em que poucos sabiam ler e as imagens ajudavam muito na transmissão de ideias e valores. Talvez encontremos paralelo com o revolução artística que ocorreu no século XX, onde se abandonou a representação e imitação da realidade para criar realidades alternativas, definidas por estéticas e simbolismos próprios. Quem, daqui a séculos, olhasse, por exemplo, para um Picasso, poderia dizer que se teria desaprendido. Mas, num olhar mais aprofundado e conhecedor da história do artista em causa, tal como muitos outros, iria comprovar que afinal o que criava era apenas uma opção estética, e não o fruto das suas limitações técnicas. Sabiam fazer, simplesmente pretendiam criar outro tipo de arte.
Aqui fica mais um exemplo de quão retalhada e desvirtuada pode ser a nossa visão do passado.
Bibliografia
  • Cambotas, Manuela Cernadas; Meireles, Fernanda; Pinto, Ana Lídia; "História da Arte - ocidental e portuguesa, das origens ao final do século XX", Porto Editora, 2006. 
  • Gombrich, E. H.; "A História da Arte, Lisboa", Ed. Público, 2005

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