quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do paraíso – A Morte e a Imortalidade para os filósofos

Socorro-me de um livro improvável para ensaiar algumas respostas sobre a nossa mortalidade, mais concretamente do livro de humor filosófico “Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do paraíso” (dos mesmos autores de “Platão e um Ornitorrinco entram num Bar”, aqui já referido no blogue). Apesar de sabermos que vamos morrer dificilmente nos imaginamos a um dia deixar de existir de facto (ver Ernest Becker). Se assim não fosse não haveriam tantas tentativas e teorias para entender a morte, e por consequentemente ensaiar a imortalidade ou o que eventualmente poderá vir depois desta nossa existência. São muitas as referências neste livro - sempre em tom bem-humorado - que valem a pena referir. 
Marat Assassinado - Jacques Louis David
Na tentativa de buscar a imortalidade, para fugir à fatalidade da morte, desenvolveram-se soluções para todos os gostos, e os filósofos foram particularmente criativos nisso – ainda que por vezes incompreensíveis. As várias religiões ofereceram e continuam a oferecer várias possibilidades para a vida depois da morte terrena, umas recorrendo a conceitos de paraísos ou infernos eternos, outras através de reencarnações, e ainda umas outras que fugiam em parte a estes arquétipos. Mas o que interessa para este texto é o modo como os pensadores e suas filosofias lidam com a morte. Por isso, aqui vai, de um modo mais ou menos cronológico!
Platão terá sido o principal teórico da alma. Ao definir concreta e metodicamente a alma como algo imaterial e diferente do corpo que morre, permite a possibilidade da imortalidade dos seres humanos através da persistência das suas almas. 
Séneca, como estoico que era, não considerava que uma longa vida fosse algo de importante. Para ele a qualidade era mais importante que a quantidade, pelo que a imortalidade era assim relativizada e diminuída. Essa tese seria posteriormente recuperada por Camus nas suas reflexões sobre o suicídio.
Descartes colocou a visão dualista de Platão em causa, pois como poderiam a alma e o corpo ser separáveis se ambos são interdependentes e dependentes entre si. Surgia a dúvida que levaria a questionar a imortalidade segundo os antigos ensinamentos. Assim Leibniz definiu essa dualidade como um funcionamento síncrono perfeito e dependente, criado por Deus. Em oposição, Huxley referiu que a consciência era apenas um efeito secundário do corpo, mais concretamente do cérebro. 
Para Kierkegaard o problema da morte prende-se com a noção de uma vida finita, uma em que nunca poderemos experimentar todas as coisas nem viver tudo. Assim, para evitar a necessidade de querer a imortalidade, o melhor é não viver mais que momentos triviais. Assim dispensa-se a imortalidade pois não haverá necessidade de viver mais do que o estritamente necessário. Schopenhauer segue mais ou menos pelos mesmos princípios, pois considera a vida um constante processo de morte, e são as espetativas que a tornam num sofrimento e frustração, por isso, tal como Kierkegaard, o melhor é viver de um modo simples. 
Para Freud é o subconsciente que inventa um ser supremo de modo a garantir uma sensação de segurança para com a grande dúvida e medo que é a morte. Já Jung defendia que o subconsciente, com a idade, se preparava para aceitar e lidar com a morte, em oposição à razão. 
Heidegger considera que o melhor modo de lidar com a morte é aceita-la, só assim se poderá viver de facto. Para ele a eternidade é entediante e algo a evitar, sendo que importa fazer da vida uma sequência de grandes momentos que nos levem a desfrutar dela ao máximo.  
Referindo de novo às teorias de Becker, um modo de atingir a imortalidade, ainda que indiretamente, é optar por deixar grandes obras ou feitos para que se seja recordado na posteridade. Não será uma imortalidade inteira, consciente ou ativa, mas à falta de melhor é algo a que muitas pessoas se agarram. Outras especulam e depositam todas as esperanças em adquirir a imortalidade através das ciências médicas, via criopreservação, clonagem, robotização biónica e um infindável rol de ficções que parecem aproximar-se cada vez mais da realidade.
Em jeito de tentativa de resumo: a morte é inevitável, o modo como cada pessoa lida com essa inevitabilidade é que pode ser muito variável.

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