quinta-feira, 23 de maio de 2013

Os Bichos humanos e os Humanos que são piores que bichos de Miguel Torga

Li os Bichos de Miguel Torga quase por auto-obrigação, já há alguns anos. Propus-me, na altura, em jeito de exercício forçado, a tentar ler algo que fosse de um autor conhecido português e que o volume da obra em causa não me assustasse à partida. Com hábitos de leitura bem reduzidos à data lá comecei a juntar, lendo, as palavras que Torga juntara nesse pequeno compêndio de contos sobre animais.

Natureza morta com caça, fruta e vegetais num mercado - Frans Snyders
No livro contam-se pequenas estórias, de vidas simples, mas pejadas de supostos sentimentos e sensibilidades de vários animais. As personagens, grande parte delas animais domésticos ou em contacto, seja por que motivo for, com a sociedade humana, comportam-se e sentem como pessoas. Aliás, os tais bichos retratados são, tendencialmente, muito mais humanos nos comportamentos e atitudes que os próprios homens e mulheres que também surgem nas narrativas.
Talvez seja uma sátira social intemporal, talvez apenas um acaso literário alegórico, ou talvez nada disso. No entanto, a sensação que me ficou foi a da intencionalidade de fazer ver à sociedade humana que a sua própria humanidade comporta variedade e indivíduos que muitas vezes se comportam como bichos, ignorantes do que afinal é (ou pode ser) o comportamento animal.
Seremos mais bichos e selvagens que os próprios animais, ou a nossa humanidade é apenas uma manifestação de comportamento selvagem e animal próprio de uma espécie que tenta sobreviver entre tantas outras, mesmo depois de supostamente ter dominado o planeta e todas as outras espécies?
Seja como for, vale a pena ler r conhecer estes “Bichos”.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pequena História Recente do Emprego em Portugal e seus Contrastes Regionais

Desde a fundação de Portugal que se registam fortes contrastes na distribuição da população sobre o território português, especialmente entre norte e sul, e litoral e interior (Lema & Amp; Rebelo, 1996). Nessa ocupação, até ao século XX, destacava-se uma maior concentração de população nas zonas de mais intensos recursos: primeiro nas zonas agrícolas; depois junto aos grandes portos comerciais (Costa et al, 2012; Mattoso, 1997; Ramos, 2011).
Mas desde 1950 ocorreu uma grande transformação económica em Portugal que mudou o radicalmente o emprego. A adesão à OECE, EFTA e o aproveitamento dos planos de financiamento internacionais de reconstrução da economia europeia industrializaram o país (Costa et all, 2012). Parte dessa modernização económica, via industrialização, assentou no recurso a mão-de-obra desqualificada que era onerada por baixos salários. Desde então verificou-se um declínio da sociedade tradicional rural (Medeiros, 2006), primeiro com a nova industrialização e depois com terciarização resultante da expansão das atividades de serviços e do próprio Estado Social, também relacionadas com a adesão à CEE e depois com a crescente integração europeia (Costa et all, 2012; Ramos, 2011).
Hoje a tendência para a concentração de população em torno das zonas urbanas (polos metropolitanos do Porto e Lisboa, e cidades médias) de melhor acessibilidade, onde existe mais oferta de equipamentos, bens e serviços, contribuiu para o desenvolvimento e reforço do setor dos serviços (Medeiros, 2006) – que é neste momento o setor que mais população ativa emprega (Pordata, 2013).

Figura 1 – População residente empregada como quadros superiores e profissões intelectuais e científicas, relativamente à população residente empregada, por concelho, em 2001. Fonte: Medeiros (2006)

Por outro lado, as taxas de atividade mais baixas, em oposição às zonas onde a população ativa tem maiores qualificações, situam-se nos concelhos mais envelhecidos e menos urbanos, tal como se demonstra na Figura 1 e 2. 
 
Figura 2 – Taxa de atividade da população por concelho, em 2001. Fonte: Medeiros (2006)

Como seria de esperar, os valores mais elevados de taxa de atividade da população verificam-se nas áreas de maior dinamismo económico, o que significa que nessas zonas os mercados de trabalho são mais ativos em termos de criação de emprego e mais extensivos do ponto de vista das bacias de emprego que geram (Medeiros, 2006).
Figura 3 - Índice de atratividade (total entradas/total emprego). Fonte: Medeiros (2006)
  
 Torna-se evidente (ver figura 3) que as zonas urbanas de mais relevância são aquelas que apresentam também maiores índices de atratividade; expectável uma vez que serão as zonas onde existem mais dinâmicas nos principais setores de empregabilidade: Serviços, de seguida o Secundário a alguma distância, e por último o Primário (Pordata, 2013).
Figura 4 - Índices dominantes casa-trabalho, em 2001. Fonte: Medeiros (2006)
Um outro fator importante para as dinâmicas de emprego das várias regiões é a facilidade das deslocações, a mobilidade e acessibilidade. Na Figura 4 denota-se novamente que os centros urbanos mais populosos, e mais dinâmicos economicamente, são aqueles que apresentam mais capacidade de mobilidade entre “casa e trabalho” (Medeiros, 2006).
Mas não é só a diferença entre urbano e rural que marca as diferenças das dinâmicas de emprego regionais. O contexto cultural tem uma importância imensa (Medeiros, 2006). Um desses exemplos paradigmáticos é o das zonas envolventes ao Grande Porto, em que regionalmente se valoriza mais a entrada cedo no mercado de trabalho, mesmo que com qualificações reduzidas, que a continuidade dos estudos.
Não se poderá caracterizar a estrutura do emprego em Portugal sem abordar também o fator do desemprego. De um modo geral o desemprego atual resulta da restruturação do setor agrícola e das atividades de transformação, tal como de uma indústria que não teve a capacidade de se modernizar, aumentar a produtividade e competir nos mercados internacionais à medida que a economia portuguesa se foi liberalizando (Mederios, 2006; Costa et all, 2012).
Tabela 1 – População total empregada por setor de 1974 a 2012
Fonte: INE, Pordata (2013)

Como se pode confirmar pela tabela 1 e gráfico 1, desde 1974 a percentagem de população ativa no setor industrial tem caído, mas não tanto como no setor agrícola. Depois da época de expansão industrial de1950-1973 (Costa et all, 2012), e da queda do protecionismo do Estado Novo, o setor sofreu um ajustamento gradual rumo à livre concorrência e aumento dos direitos laborais, tendo-se registado uma queda de população empregada de quase 10% do total. 

Figura 5 - Dinâmica do emprego industrial. Fonte: Medeiros (2006)
Apesar da queda, algumas zonas do país mostram-se mais dinâmicas que outras (ver figura 5), especialmente aquelas ligadas a determinados clousters (Medeiros, 2006), que recorrem à especialização/diferenciação, usando tecnologia e recursos humanos qualificados, capazes de competir internacionalmente. Um exemplo disso será a indústria dos Moldes localizada na Marinha Grande e Leiria.

Tabela 2 – População empregada por setor para as NUTSIII e Regiões Autónomas
Fonte: INE, Pordata (2013)


Gráfico 1 – População total empregada por setor de 1974 a 2012 em %
Fonte: INE, Pordata (2013)


Apesar de toda a diversidade regional portuguesa, ao nível do emprego notam-se algumas tendências comuns, mesmo que algumas zonas sejam mais rurais ou urbanas, outras muito mais industrializadas e outras dedicadas ao setor primário, com os serviços empregarem percentagens muito significativas (quase sempre a maior fatia) da população ativa. De 1960 a 2001, tal como se demonstra na tabela 2, com exceção da Grande Lisboa e Grande Porto e de outras zonas pontuais (Serra da Estela; Médio Tejo; Algarve; Baixo Mondego; Entre Douro e Vouga; e Ave), a industrialização cresceu consideravelmente e as atividades Agriculturas perderam muita mão-de-obra. No entanto, o crescimento mais espetacular deu-se no setor dos serviços, num país que em 50 anos deixou de ser maioritariamente Agrícola para se dedicar aos Serviços, sem ter passado por uma economia dominantemente assente no setor industrial (ver gráfico 1).

Referências Bibliográficas
• Amaral, Luciano; 2010. “Economia Portuguesa, as últimas décadas”. Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
• Costa, Leonor Freire; Lains, Pedro; Miranda, Susana Munch; 2011. “História Económica de Portugal – 1143-2011”. Lisboa, Esfera dos Livros.
• Estanque, Elísio; 2012. “A Classe Média: Ascensão e Declínio”. Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos.
• Lema, Paula Bordalo; Rebelo, Fernando; 1996. “Geografia de Portugal – Meio Físico e Recursos Naturais”. Lisboa, Universidade Aberta.
• Mattoso, José; 1997. “História de Portugal - vol.IV – O Antigo Regime”. Lisboa, Editorial Estampa.
• Medeiros, Carlos Alberto (Direcção); 2006. “Geografia de Portugal”. Lisboa, Círculo de Leitores.
• Pordata; 2013. “População ativa por atividade económica”. http://www.pordata.pt/, consultado em 15 de Abril de 2013
• Ramos, Rui (Direcção); 2009. “História de Portugal”. Lisboa, Esfera dos Livros.



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