quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Introdução à História – Uma obra sem ponto final de Marc Bloch

Este último ano teve, sem dúvida, uma leitura que me marcou. Não se trata de ficção, romance ou conto. O título do livro diz tudo: “Introdução à História”. Com um nome tão direto e quase cru, direcionado para um área tão específica do saber, o mais provável é não despertar um interesse generalizado, e até parecer estranho ser aqui referida. Este título, quase quadrado, esconde um conteúdo único muito eclético. O próprio livro e o autor têm uma história para além da história, da história que pretendem querer introduzir. Esta obra de Marc Bloch - importante historiador medieval do século XX – tem a sua própria história, escrita num dos períodos mais negros da história do século XX. Nesse labor, do conhecido historiador, é dado o passo para uma “nova história”, termo que a própria história registará como nova abordagem ao estudo e análise da própria história enquanto ciência.
Marc Bloch - David Levine
Fonte
Marc Bloch, neste, como em mais escritos da sua autoria, e em consonância com outros companheiros historiadores do seu tempo que seguiam a mesma tendência, quis mudar o modo como se contava, registava e fazia história – a historiografia não seria mais a mesma. Queria que a história deixasse de abordar e tratar apenas os grandes feitos, os grandes líderes, as grandes coisas. Queria que a história passasse a estudar toda a sociedade, também os pequenos feitos, os indivíduos comuns, a sociedade no seu todo, algo que nos fizesse aproximar mais do passado, com uma visão apropriada ao Homem real. Bloch queria que na história passasse a constar o todo, e não o particular que alguém decidiu destacar no passado, por razões várias. Bloch defendia que a história devia ser mais um exercício de reflexão e criação que propriamente de acumulação acrítica de conhecimento passado. Esta nova forma de ver o passado foi revolucionária para a História, e tem hoje claras influências na sociedade contemporânea. Emancipou o Homem na história, e permitiu que o estudo da história fosse dinâmico e passível de novas construções para o presente e futuro. Fez com que a história se relacionasse com as outras ciências de um modo pluridisciplinar e fosse uma das bases de planeamento para o futuro.
Introdução a História” é uma obra inacabada, Marc Bloch nunca a terminou… Não lhe permitiram dar o ponto final no seu magistral trabalho. Muito mais haveria para escrever, tal como o próprio autor planeara. Marc Bloch foi fuzilado em 1944. Bloch era judeu, tinha sido soldado na primeira Guerra Mundial, e quando a França fora ocupada pelos Nazis abandonou o mundo académico e alistou-se na Resistência Francesa. Durante a Guerra foi capturado, torturado pela Gestapo, e executado por ordens de Klaus Barbie, o conhecido oficial das SS e da dirigente da Gestapo.
Da obra inacabada surgiu a oportunidade de fazer jus ao autor e continuar o seu trabalho. Muitos historiadores o fizeram, muitos continuaram a fazer história, abraçando-a como “nova”. Por ironia do acaso, e do papel que o próprio Marc Bloch deixou na história, hoje temos todos ao nosso dispor uma obra inacabada para continuar a escrever a nossa história.
Nota: este texto foi criado propositadamente para o blogue "7 Autores", a convite de Silvia Alves, mas como a temática se enquadra âmbito deste espaços, decido publica-lo aqui também.

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