segunda-feira, 23 de abril de 2012

Filme: Uma Pequena Vingança


Todos nós, ao longo da nossa vida, mesmo que não tenhamos um espírito vingativo, fomos confrontados, direta ou indiretamente, com pequenas ou grandes vinganças. O Filme "Uma Pequena Vingança" trata uma dessas pequenas vinganças, uma que se passa num grupo de jovens adolescentes e pré-adolescente. Sem revelar o enredo e a história que conta a metragem, gostaria de dizer umas palavras sobre o filme.
Uma Pequena Vingança” é uma pequena produção americana, muito longe das grandes produções e blockbusters, da autoria de Jacob Aaron Estes. As personagens principais são jovens que emprestam ao filme grande parte da sua alma. Os atores, apesar de muito jovens, têm todos, quase sem exceção, prestações de altíssima qualidade. As expressões faciais, gestos e comportamentos fazem-nos crer na fidedignidade da história. Conseguem transmitir verdadeiras emoções, ainda que encenadas – como só poderia ser é claro - que corporizam o enredo. O casting foi exigente seguramente.
Mas o principal aspeto que saliento no filme são os comportamentos humanos que se encenam e somos levados a experimentar pela visualização. Somos levados para o mundo da adolescência. Somos levados a refletir sobre o contexto e o ambiente social e humano dessa faixa etária, como reagem e agem os adolescentes, como reage cada um, dependendo do meio social/familiar e personalidade de cada um. Da história, que nos emociona, sobressaem os valores, o sentido de responsabilidade, culpa e expiação. Sobressaem também os efeitos do social, dos ambientes físicos e dos espaços, na vida dos jovens.
Fica a recomendação de um pequeno filme, uma pequena produção, mas que merece a nossa atenção.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Quando se começou a chamar os caloiros por "bestas"

Enquanto palmilhava com os olhos um documento sobre a história das primeiras universidades europeias, dou por mim a ler algo sobre caloiros e praxes. O texto em causa era parte integrante do livro "Os intelectuais da idade Média", obra de Jacques Le Goff - um famoso e importante medievalista francês dos nossos tempos. A determinado momento da leitura, chego a um título que diz: Clima Moral e Religioso. Uns parágrafos depois o autor refere que o documento Manuale Scolarium (um documento do século XV) refere que em tempos anteriores - naquele período que conhecemos com Idade Média - os jovens adolescentes que ingressavam nas universidades começaram a ser sujeitos a uma "purgação". O objetivo desse ritual era retirar ao jovem a rusticidade do meio  de origem, torna-lo um membro da nova comunidade urbana intelectual, fazer com que abandonasse a, suporta, bestialidade. Refere o documento que era habitual troçar do seu cheiro a animal selvagem, do seu olhar perdido, das orelhas compridas, dos dentes que se pareciam com presas. Parece que em alguns casos limavam os dentes aos caloiros, entre outros rituais. Havia também lugar a uma confissão parodiada onde se confessavam vícios extraordinários.
O esfolamento de Marsyas - Ticiano

Assim, tendo em conta os dados anteriores, parece que as "praxes" (ou purgações) serão tão antigas como as próprias universidades europeias, e que existe uma explicação simbólica para o uso do termo "besta". No entanto, será que, nos dias que correm, estes rituais de praxe servem para remover a besta, mais ou menos bestial, que mora em cada um de nós ou apenas a potencia?

Fonte:
Jacques Le Goff, Os intelectuais na Idade Média, 2ª edição. Lisboa: Gradiva, 1987

sábado, 7 de abril de 2012

Começar a construir de cima para baixo - Uma Técnica de Engenharia


As paredes devem-se começar a executar de cima para baixo”.  Qual seria a resposta de um imaginário interveniente a esta minha afirmação? Provavelmente diria: que disparate, todos sabem que as casas não se começam pelo telhado! Apesar da reação, não teria qualquer receio em fazer tal afirmação, até porque já a fiz várias vezes e continuarei a fazer. Mas, para evitar que a afirmação se torne um anacronismo, há que aprofundar e explanar mais o assunto.

Construcão 1923 - Thomas Hart Benton

Primeiro, quando digo que as paredes se devam começar a executadas por cima, refiro-me apenas a que devem ser construídas primeiro nos pisos superiores, isto depois da estrutura que as irá suportar estar já finalizada. Por exemplo, as paredes em alvenaria, para edifícios com estruturas de betão armado ou metálicas, devem começar a ser executadas, fiada a fiada da base do piso até ao tecto, dos pisos superiores até aos inferiores. Habitualmente afirma-se, como corrente metáfora em contextos que até nada têm que ver com construção e por não especialistas,  que se começa sempre a construir a partir de baixo. Isso é verdade para os elementos estruturais que garantem a estabilidade da construção, mas nem sempre é uma generalização construtiva válida, tal como demonstrarei. As paredes de alvenaria, que revestem e dividem interiormente atualmente os edifícios, tendo em conta a construção tradicional corrente, não são elementos resistentes. Paredes em alvenaria, nas construções recentes, são até “negativas” do ponto de vista estrutural, ou seja, apenas fazem peso sobre o edifício em causa e sua estrutura resistente. Como fazem peso sobre a estrutura também a deformam – pois é, todas as estruturas se deformam, e essa deformação é controlada em fase de projeto através do conceito de  Estados Limites de Utilização. Logo, se começarmos a construir as paredes a partir dos pisos inferiores, essas paredes, quando todo o edifício tiver construído, serão sujeitas a esforços causados pelas deformações posteriores, provenientes da própria estrutura sujeita aos acréscimos de pesos incrementais das paredes que se vão construindo. Como as paredes não são construídas para serem elementos resistentes o mais comum é surgirem fendas. O ideal é ir construindo as paredes de cima para baixo, construindo-as, piso a piso, do de cota superior até ao de cota inferior, e assim sucessivamente até tudo ficar finalizado. Com esta opção a estrutura vai deformando progressivamente e as paredes inferiores serão executadas já com a deformação espectável total da estrutura resistente. Assim evitam-se fendas nas paredes e restantes elementos construtivos de revestimento (rebocos, pinturas, e outros). Esta é por vezes uma das razões para predes de construções recentes apresentarem fendas e fissuras (há muitas outras também, mas isso seriam outras discussões e razões). Uma outra solução, que pode evitar estas fendas por deformação vertical dos elementos, passa por optar por não “ligar” o topo das paredes à laje, aplicando um tipo de material elástico que absorva possíveis deformações e não transmita esforços. Esta última opção pode ser devidamente disfarçada e não se notar o artifício nas paredes finalizadas.
Mais uma vez se comprova que o sendo comum nem sempre é o melhor juiz, a solução que parecia evidente nem sempre é a melhor. Por vezes - usando uma metáfora relacionada com construção - “é preciso partir pedra” e fazer algumas desconstruções (de ideias). Neste caso - continuando com as metáforas - o excesso de adereços, indevidamente colocados, podem levar mesmo à ruína do todo, ou a que esse todo sofra danos evitáveis. Há que respeitar e atender ao essencial, o resto poderá ser apenas acessório - uma trivialidade que pode dizer muito e pouco ao mesmo tempo.

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