segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Revolta Estudantil de 69 e o 25 de Abril de 74 - Uma Possível Relação

No Documentário Crise Académica de 69, uma produção nacional do Canal de História, é apresentado e descrito um dos eventos políticos nacionais mais importantes entre o periodo da candidatura de Humberto Delgado em 1958 e da Revolução de 25 de Abril de 1974.
Os anos 60 foram verdadeiros anos de revolução e mudanças sociais por toda a Europa (e não só), especialmente entre os mais jovens e os meios académicos. No documentário em causa referem-se algumas das razões dessa mudança. Entre elas: a criação do Pacto de Varsóvia, como a possibilidade que permitia democratizar o acesso ao Ensino Superior especialmente pela possibilidade de ser frequentado pela classe operária; os escritos e influência filosófica de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, através da corrente filosófica do existencialismo que valorizava os indivíduos e as suas liberdades, que levou a exigir na prática mais liberdade e democracia. Em França o culminar dessa mudança foi o conhecido Maio de 68. Em Portugal, essas mesmas ideias, que por cá eram ainda mais revolucionárias - devido à existência de um Estado Anti-democrático desde 1928 -, chegaram e foram assumidas pela comunidade académica de Coimbra, especialmente pelos seus estudantes, em 1969, o que levaria aos acontecimentos da Crise Académica de 69.
Maio de 68 II - Júlio Pomar
Os estudantes de Coimbra exigiam mais liberdade na sua Universidade, que era um modo indirecto de o fazer para toda a sociedade Portuguesa. A partir de então os estudantes, através das repúblicas, associações, grupos culturais, e até movimentos políticos clandestinos, concretizaram, neste período histórico específico, a um novo activismo cívico e político.
Provavelmente o evento que despoletou todas as posteriores acções mais visíveis foi o acontecimento que ocorreu aquando da inauguração do edifício da Faculdade de Matemática. Para esse evento deslocaram-se a Coimbra os Ministros das Obras Públicas, da Educação (o célebre historiador televisivo Hermano Saraiva) e Presidente da República de então, Almirante Américo Tomás. Os estudantes defendiam que deveriam participar activamente nessa acontecimento académico. De modo a cumprir essa vontade é decidido, entre os estudantes, que Alberto Martins, presidente da Associação académica de Coimbra, deveria pedir a palavra durante o decorrer da cerimónia.  Hoje em dia a possibilidade de alguém se fazer ouvir e poder intervir é um dado adquirido, mas naquela altura este acto era uma verdadeira afronta ao Regime e uma manifestação mais que evidente vontade de ter mais liberdade.
Assim, Alberto Martins cumpre a sua missão, levanta-se e diz: ”Sua Ex.ª, Senhor Presidente da República, dá-me permissão que use da palavra nesta cerimónia em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra?”. A História conta que a palavra lhe foi negada e que a cerimónia fora repentinamente terminada.
Esta tomada de posição valei a prisão a Alberto Martins, que no dia seguinte viria a ser libertado, depois da pressão dos estudantes que se mobilizaram e se manifestaram junto do cárcere. Apesar do sucesso da manifestação os manifestantes, como seria de esperar,  foram violentamente dispersados e os feridos foram bastantes.
A partir de então as manifestações e activismos despoletaram e foram ganhando cada vez mais força e notoriedade por Coimbra. Fizeram-se assembleias gerais, marchas, protestos e até greves às aulas e exames, tudo de um modo pacífico e simbólico.
Uma das resposta do Regime fascista foi punir os elementos mais activistas dos movimentos estudantis, incorporando-os no exercito, e forçando-os a lutar no Ultramar, ao todo foram 59. Foram incorporados como "traidores à pátria". Isso deixou um grande incomodo entre os militares, por se considerarem diminuídos do seu estatuto de "espelho e orgulho da nação" para algo semelhante a "ferramenta de repressão e castigo do Regime".
Assim, directa ou indirectamente, estes 59 castigados foram "minando" - palavras dos entrevistados para o documentário - e estabelecendo contactos com os oficiais mais liberais, aqueles que pretendiam também mais liberdade e democracia (é nesses militares que se manifestou a influência dos ideias democráticos ocidentais que chegavam via formação militar de topo através da NATO - algo já aqui referido no blogue em anterior texto) e que mais tarde seriam os Capitães e os responsáveis pela Revolução - que foi na sua génese principalmente militar (algo tratado também em anterior texto aqui no blogue) - do 25 de Abril de 1974. Não será de todo descabido então considerar que a revolta académica de 69 também influenciou o golpe militar e revolução de 74.
No entanto, com a mudança de Ministro da Educação, quando José Hermano Saraiva foi substituído em Janeiro de 1970, todos os castigos e medidas de repressão foram retirados e revogados. Assim, pode-se dizer - e são os próprios dirigentes das revoltas estudantis que o afirmam - que de facto a revolta estudantil de 1969 triunfou. Não admira que os envolvidos se sintam honrados e orgulhosos disso hoje.  
Será que no futuro as gerações de hoje terão motivos para se orgulhar pelo seu activismo cívico e político, ainda por cima quando não temem repressões e têm liberdade de actuação?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Zatôichi, um filme japonês de acção diferente a considerar

O filme japonês Zatôichi é no mínimo "estranho". Este filme de Takeshi Kitano, que para além de realizador e também actor principal do filme, insere-se em tantas géneros que é difícil de categorizar. Tanto pode ser visto como drama, acção, comédia e histórico/caracterização social de época.
O filme conta-nos um a história (romanceada) de zaitôchi (um massagista, cego, jogador e mestre nas artes marciais de espada, criado pelo romancista japonês Kan Shimozawa durante o período Edo), conta, mais concretamente, o episódio em que a personagem chega a uma aldeia reprimida por grupos de bandidos locais.  Zaitôchi é, desde o século XIX, uma personagem muito popular no Japão, deu origem a dezenas de contos e filmes, mas este de Takeshi Kitano, datado de 2003, é peculiar. Para além de não o conseguir caracterizar também é extremamente difícil de avaliar. 
Para além das cenas bem humoradas, de uma acção ora dinâmica ora lenta e dramática, salientam-se os cenários e ambientes. Mais que tudo, em Zatôichi, é possível - pelo menos atendendo que o que é transmitido é verdadeiro - conhecer um pouco do Japão do século XIX, antes da influência Ocidental. Neste filme, o realizador apresenta-nos: o modo como se fazia a agricultura e o comercio; algumas tradições culturais e artísticas - música e teatro -; a vida e morfologia das habitações, das casas de jogo de dados e das tabernas; geishas - no caso das geishas o contraste dos seus kimonos  e maquilhagens com os ambientes cinzentos assume uma beleza especial, samurais, ninjas, e muitos outros.
Com este filme podemos rir, ver litros de sangue (digitalizado) e conhecer uma muito popular personagem da cultura japonesa de ficção, tal como um pouco da a cultura japonesa. 
O filme não é seguramente dos melhores de sempre, se calhar nem é dos melhores feitos no Japão, mas para nós, que não estamos habituados a ver este tipo de cinema, Zatôichi deve ser um filme a considerar.
Ah, o final musical é surpreendente.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Governo que nem 5 minutos governou

Já anteriormente referi, a propósito de outro tema, a obra "Histórias rocambolescas da História de Portugal" - obra capaz de despertar, mesmo naqueles mais adversos às coisas do passado, uma genuína curiosidade pela História de Portugal. De novo aqui no blogue volto a referir a obra de João Ferreira para voltar novamente ao tema da 1ª República em Portugal (a anterior referencia centrava-se em torno da questão: Afinal quantas repúblicas existiram em Portugal, 3 ou 2?). Este novo texto recai nesse conturbado, e verdadeiramente revolucionário, período histórico/político onde se radicalizou (exemplo do anticlericalismo) e se fez avançar e evoluir o país (exemplo da instrução escolar  generalizada e do aumento das liberdades individuais), mas mais concretamente naquilo que foi, provavelmente, o cúmulo da instabilidade governativa nacional. 
O Salto do Coelho - Amadeo de Souza Cardoso
 João Ferreira diz-nos que: "Em menos de 16 anos, entre 5 de Outubro de 1910 e 28 de Maio de 1926, sucederam-se 8 chefes de Estado e 42 Governos". Tamanho alvoroço político parece quase inacreditável, e ainda inacreditável é o facto de ter existido um Governo que nem 5 minutos durou. Em 1920 o Governo de Fernandes Costa demitiu-se ainda antes sequer de ser empossado, só porque se juntou uma multidão de protesto no Terreiro do Paço quando o pretenso novo Governo se preparava para seguir para a sua suposta tomada de posse. Em jeito de gozo, e brincadeira, este ficou conhecido para a História como "O Governo dos 5 minutos". A bem da verdade o nome até que é gracioso, pois este Governo nem sequer 5 minutos!
As razões de antigamente hoje não se justificam, até porque, embora se diga que esta 3ª República é jovem, a consciência democrática de hoje é muito superior à do inicio do século, numa época em que se vivia muito na base do "experimentalismo político" e que uns meros contestatários podiam intimidar um qualquer Governo.
De facto evoluímos muito, muito mesmo! Saber governar em democracia é saber lidar e respeitar o contraditório, sem medos e receios se o apoio popular for de facto maioritário e legitimado por eleições rectas.

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