domingo, 31 de outubro de 2010

Mesmo à beira da Bancarrota a Grécia é muito rica

A Grécia é sem dúvida um dos países mais importantes da História da Humanidade, não tanto pelo seu presente – embora não se saibam quais as repercussões da actual crise que vive – mas mais pelo seu passado. Não que o país que hoje é a Grécia seja herdeiro directo e espelhe nitidamente a civilização tão importante que existiu naquela zona geográfica, grupo de várias cidades-estado unidas por uma língua, cultura e religião comum, –  pois a aculturação aos invasores posteriores à dita cultura grega clássica foi muito significativa. Até porque A Grécia da antiguidade nunca foi um império, um país, ou sequer um todo coerente.
Mas hoje, a Grécia, enquanto país, continua a ser importante pois é a nação que alberga e cuida – muito zelosamente e com um turismo instituído muitíssimo profissional, onde por exemplo os guias turísticos têm sindicado e formação acreditada para o exercício da sua profissão – da riqueza cultural e arquitectónica da Grécia do passado - berço da cultural Ocidental.
Lord Byron no seu leito de morte - Joseph-Denis Odevaere
Apesar de ser uma nação recente (pouco mais de 150 anos), são bem evidentes na Grécia de hoje as influências do passado, os efeitos e marcas das várias migrações e ocupações de povos estrangeiros que o território sofreu. Trata-se de um país que resulta de uma mistura cultural muito rica, de uma fusão que deu origem a uma sociedade e cultura muito particular – um misto de ocidente e oriente.
Deixo aqui então algumas particularidades e curiosidades culturais e linguísticas da Grécia de hoje, características de uma sociedade que é fruto de uma mescla de um valioso capital humano e cultural:
•    Os Gregos não se intitulam a eles próprios de Gregos mas sim de Elenos e chamam à sua terra Élade (estes termos costumam ser escritos com “H”, mas são os próprio gregos que afirmam que a forma correcta de se escrever é sem “H”), que etimologicamente significa terra da luz e da Pedra. Foram o Romanos que chamaram aos Elenos de Gregos.
•     A maior parte dos termos ligados às várias ciências são de origem grega e dizem-se de igualmente nas línguas que derivam do Latim – 30% do Latim advém do Grego antigo -, por exemplo: psicologia, oftalmologia, dermatologista, pedagogia, entre muitas outras.
•     Curiosamente quando os gregos dizem “Ne” querem dizer "Sim" e quando dizem “Ochi” querem dizer "não" – algo que pode levar a muitas confusões, especialmente aos turistas falantes de línguas latinas.

Nem toda a riqueza é física. A Grécia, apesar de hoje estar em dificuldades financeiras, culturalmente e historicamente é riquíssima - isso ninguém lhe pode jamais tirar!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

«Luta, Sexo e Droga» – um filme sobre a violência pela violência, sem causas

«Luta, sexo e droga», ou no título original «The Football Factory», é um filme inglês sobre hooligans, sobre o modo como vivem alguns desses hooligans fora dos estádios - até porque aqui neste filme pouco ou nada se vêm manifestações do desporto propriamente dito, nem um pedaço de relva de um estádio durante um jogo se vê durante o filme.
Submetendo este filme a uma abordagem mais abrangente, querendo tirar conclusões sobre estes grupos e a sociedade que trata, fica ideia do drama social de indivíduos que lutam – no sentido físico do termo -, que lutam pelo simples facto de gostarem de lutar e de apreciarem a violência. Apreciam-na como modo de vida e como afirmação social, chegando mesmo a ser um modo de expressão cultural, explicável quando falham ou são remetidos para segundo plano outros valores culturais. Nesta obra cinematográfica os hooligans, para além de violentos, são também retratados como consumidores de drogas de todo o tipo e fiéis amigos do álcool na forma de cerveja. Não sei se propositado ou não, mas nem sequer vemos emblemas dos clubes – algo que pode significar a enfatização de que o clube ou o desporto em si pouco importam aqui, o que vale é o gosto pela violência e comportamentos desviantes.
A carga dramática é intensificada com a introdução e participação no enredo de personagens que pertencem a um passado, a uma geração que teve de lutar com orgulho na 2ª Guerra Mundial contra os Nazis. Estes heróis de guerra – representados na figura do avô da personagem principal – simbolizam uma época em que recorria à violência, mas somente como resposta inevitável a forças que atentavam contra valores nobres como a liberdade. No fundo, a leitura e principal mensagem que, na minha opinião, se pode tirar deste filme é a chamada de atenção para um problema social, um que afecta Inglaterra, mas também outros países desenvolvidos: as gerações de jovens que enveredam pela irreverência, com base na violência, sem qualquer causa nobre ou sentido para essa atitude, para além do simples gosto pela agressão! 
O narrador chega a dizer numa das suas introspecções, enquanto observamos uma cena de pancadaria envolvendo vários “hooligans” rivais: “…não há mais nada de interessante para fazer num sábado à tarde…

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Anaquim e as vidas dos outros – um retrato social através da música

Já há algum tempo que gostava de fazer aqui no blogue referência a uma nova banda portuguesa, uma banda muitíssimo original. Quer pelo som, quer pelos temas e conteúdos que aborda nas letras cantadas. Refiro-me aos «Anaquim». Sem dúvida que o som é original e, não sendo eu grande especialista em instrumentos musicais e sua utilização para a criação musical, arrisco-me a dizer que chega a ser de extrema qualidade e a ser uma lufada de ar-fresco no panorama musical português. A voz do vocalista é também muito interessante e característica. Mas, aquilo que realmente gostava de destacar nesta banda são as letras do seu primeiro álbum - «as vidas dos outros».
Capa do álbum «as vida dos outros» da banda «Anaquim»
Ao ouvirmos «as vidas dos outros» dos «Anaquim» conseguimos, só pelas canções, fazer uma espécie de retrato social do Portugal contemporâneo - bem-humorado e satírico. A crítica social é mais que evidente, a descrição de ambientes e comportamentos sociais, bem próprios das gentes lusas, é quase realista. «Anaquim» não será aquela pura música de intervenção social – apesar de o ser em parte -, penso que será mais música de descrição e caracterização social. Será que se inventou um novo género para caracterizar canções?

Deixo aqui o link da página de myspace de «Anaquim» onde se pode ouvir gratuitamente o álbum «as vidas dos outros»: http://www.myspace.com/anaquim.info

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A ditadura em Portugal caiu (indirectamente) devido à NATO?

Como sabemos, Portugal foi um dos países fundadores da NATO. Hoje faz todo o sentido, mesmo que a Guerra Fria esteja lá longe, que um país com o sistema político que hoje é vigente em Portugal faça parte da NATO - Isto se considerarmos que a NATO era uma organização que pretendia defender as democracias ocidentais do bloco comunista de Leste liderado pela URSS. Mas faria sentido quando Portugal era uma ditadura?
Par da fantasia de Walt Disney a dançar  - Paula Rego
Recentemente foi exibido no Canal de Historia um documentário que trata este assunto. Esse trabalho intitula-se «Portugal e a NATO» e é da autoria de Alexandra Pereira e Rui Pinto de Almeida. Esta questão com que iniciei o texto tenta ser respondida neste documentário, fazendo uma análise histórica do período desde os anos 50 até ao final da Guerra Colonial.
Os autores referem que só foi possível a Portugal, em pleno apogeu do Estado Novo, protagonizar este papel devido à sua situação geopolítica e estratégica. Mais concretamente pela necessidade dos EUA precisarem de ter uma base militar a meio caminho entre os continentes Americanos e Europeu.  Daí a presença em território nacional de forças dos EUA na Base da Lajes nos Açores – que ainda hoje continua activa e um ponto estratégico operacional da NATO. Assim, os EUA, suportaram uma ditadura que, apesar de não apoiarem formalmente, era tolerável e preferível a ver a URSS avançar mais sobre a Europa e ameaçar a hegemonia Americana sobre as nações democratizadas. Aqui se demonstra o pragmatismo, quase maquiavélico, da política externa Americana da altura da Guerra Fria.
Desta relação entre Salazar e a NATO surgiram dois acontecimentos nacionais que valem a pena ser referidos e que, de um certo modo, condicionaram a história portuguesa das décadas seguintes: as formações que a NATO deu aos oficiais portugueses, tendo-lhes disseminado alguns dos ideais e valores da liberdade e democracia – veja-se o caso das iniciativas do General Humberto Delgado e dos Capitães de Abril; o afastamento e isolamento internacional em que Salazar colocou Portugal - daí a frase "orgulhosamente sós" - ao utilizar, sem autorização dos EUA, as armas fornecidas pela NATO nos teatros da Guerra Colonial quando deveriam ser apenas para defesa contra os soviéticos numa eventual guerra.
Assim, indirectamente, a NATO acabou por fazer cair o Estado Novo e contribuir para que se restaurasse a Democracia em Portugal, ainda que passado muito tempo e tendo acontecido muitos incidentes até isso se ter realmente concretizado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Uma razão pela qual ainda não utilizamos automóveis eléctricos

Apesar de actualmente, ao contrário do que aconteceu há cerca de dois anos ou três anos, os preços dos combustíveis fosseis não serem a maior das nossas preocupações, muitos são os que continuam a especular a razão pela qual ainda estamos tão dependentes dos automóveis com motores de explosão interna para nos movermos. Na verdade, os motores eléctricos actuais são bem mais eficientes e, em alguns casos, tão ou mais potentes e economicamente viáveis como os de combustão interna. Basta pensarmos que a maioria da maquinaria industrial é movida por energia eléctrica – não consta que o sector da indústria opte por equipamentos e máquinas ineficientes. Então, assim é, qual a razão para não usarmos automóveis eléctricos no nosso dia-a-dia? Bem, evitando teorias da conspiração, uma das razões reside numa limitação: o modo de armazenar a energia eléctrica para fazer mover estes veículos.
Actualmente os veículos eléctricos dependem do uso de baterias e são esses dispositivos que limitam a autonomia do automóvel eléctrico. Em média, carregando uma bateria entre 2 a 3 horas não se consegue percorrer mais de 200 milhas. E a utilização de maiores quantidades de baterias, com mais capacidade, iria aumentar de modo incomportável o peso do veículo, fazendo com que fosse necessária ainda mais energia proveniente de ainda mais baterias para o fazer mover. Já para não falar que as baterias têm enormes impactes ambientaistransporte ferroviário. Trata-se do carregamento do veículo em estrada. Esta possibilidade permitiria utilizar veículos com baterias mais leves – com autonomia para 50 ou 60 milhas – servindo apenas para os alimentar enquanto estivessem desligados da rede de abastecimento, diminuído assim a necessidade de um conjunto volumoso e pesado de baterias.
Para já pode parecer ficção científica, algo que Steven Spielberg vislumbrou parcialmente no seu filme «Relatório Minoritário». Quem sabe se o famoso realizador não tenha feito uma espécie de “profecia” tecnológica?

Fonte: Buiel, E. R. (2008). Advances in Battery Development for Vehicles (Advanced Lead Acid and Li-ion), Near Term Electrification of Transportation System, Feasibility of Near Term Retrofitting of Inefficient Vehicles to EV’s. U. S. C. o. E. a. N. Resources, US Senate

domingo, 17 de outubro de 2010

«Destruir depois de Ler» - falta de formação para lidar com informação?

Ainda tenho o DVD do filme «Destruir depois de ler» a rodar no leitor e os créditos a passar na televisão, mas nem por isso posso evitar de deixar já aqui umas considerações sobre esta excelente obra dos irmãos Coen. «Destruir depois de ler» é um quase filme de espionagem em que a marca dos conhecidos realizadores salta à vista – cenas inesperadas, personagens ingénuas e colocadas em situações altamente improváveis que fazem funcionar todo o enredo.
Salientava aqui sobre o filme algo que me fez escrever estas palavras de imediato: o valor e importância de saber lidar com a informação. Toda a trama é sobre isso mesmo, ter ferramentas cognitivas para saber lidar com a informação com que somos confrontados – seja qual for o modo como a obtemos.
Será que nós, cidadão de um mundo globalizado a viver na era da informação também, temos todo o saber e destreza intelectual para lidar com todo o saber com que somos bombardeados todos os dias?
Acho que é caso para perguntar: temos formação para lidar com toda a informação que nos "dão" ou querem impingir?

10000 e tal visitas - mais um motivo para celebrar

Ainda me lembro de, recentemente, ter festejado aqui as 5.000 visitas ao blogue. Na altura para assinalar o acontecimento fiz reviver a nossa antiga moeda - o escudo - através de imagens das três versões das notas de 5.000 escudos - numa clara alusão ao número de visitas em causa.
Agora que o contador de visitas registou mais de 10000 - valor que terei de confiar que é certo - irei de novo celebrar o atingir de mais um marco significativo de visitas. Como ainda se fizeram notas de escudos com a quantidade de 10.000 volto a usar o dinheiro para a celebração, não pelo valor monetário mas pelo valor que essas notas têm enquanto criações de arte e design (e até de divulgação histórica pelas personalidades que usam) para os usos da compra e venda. 
Recentemente também a República portuguesa fez 100 anos. Se não tivéssemos aderido ao Euro também o Escudo - enquanto moeda nacional - faria 100 anos. Só espero que a República continue a persistir sem definhar - a não ser que se descubra uma melhor forma de governo - seja qual for a moeda que usemos, pois o dinheiro é só dinheiro e a republica seguramente vale mais que isso - pelo menos ideologicamente de um ponto de vista ideal (redundâncias à parte).
Nota de 10.000 escudos de 1989 em honra do Dr. Egas Moniz
Nota de 10.000 escudos de 1996 em honra do Infante D. Henrique
Obrigado a todos pelas visitas e comentários com que têm enriquecido esta "Busca". Contarei de futuro com eles [visitas e comentários] para continuar a valorizar aqui o blogue, pois, por mais notas que queira usar de futuro para comemorar o número de visitas, só mesmo um cheque servirá para simbolizar as quantidades de visitas que ainda espero ver o blogue alcançar. Tentarei evitar passar cheques, pois temo que possa passar involuntariamente um careca de conteúdos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

“Humores” desregulados – uma causa de doença

Agora que me encontro a recuperar de uma gastroenterite, e que todas as minhas entranhas parecem descontroladas e num frenesim de movimentos e actividade, vem-me de imediato à memória e lembrança uma das teorias de um dos médicos mais importantes da história. Recordo Galeno, médico de origem grega, que praticou e desenvolveu a sua arte e teorias de cura na época imperial romana - considerado por alguns historiadores como sendo romano por ter vivido segundo os costumes de Roma numa época em que a cidade eterna era o expoente máximo cultural do mediterrâneo – e que desenvolveu a sua famosa teoria dos “4 humores”. Para Galeno – muito influenciado pelas teorias e preceitos de Hipócrates – o corpo humano era influenciado por 4 fluidos: bílis amarela, bílis negra, sangue e fleuma. Segundo essa teoria, era a desarmonia dos 4 fluidos que provocava a doença, razão pela qual  muitos dos tratamentos então prescritos eram orientados para reequilibrar esses humores [fluidos]. 
Nº8 - Jackson Pollock
A influência deste médico do século I d.C. continuou por toda a idade média até ao século XVII, época em que se começou a fazer uma nova “ciência” – baseada no empirismo e experimentalismo, o que levou a refutar muitos ensinamentos do passado. Uma das mais conhecidas e aplicadas técnicas de cura (durante todos esses séculos), através da tentativa de harmonizar os fluidos e assim fazer desaparecer a doença, eram as sangrias. O mais curioso – para não dizer repulsivo - era o modo como essas sangrias se realizavam: aplicavam-se sanguessugas em partes predefinidas do corpo do doente e em quantidades específicas, de acordo com o tipo de maleita, de modo a extrair os fluidos em excesso e retomar o são equilíbrio perdido dos fluidos corporais. Consta que estes vermes parasitários tenham sido usados para fins terapêuticos pelo menos até ao século XVIII no Ocidente.

Bem, toda esta incursão histórica só porque me lembrei do seguinte: se tivesse tido este problema [gastroenterite] na época medieval e me tivesse dirigido a um físico [médico da época], em vez de ter ido a um moderno hospital, muito provavelmente ter-me-iam prescrito sanguessugas em vez de uns quantos fármacos na forma de comprimidos.

A verdade é que nesta condição [sofrendo de gastroenterite] consigo compreender perfeitamente a teoria dos “humores” de Galeno ou não sentisse um completo desequilibro de fluidos nas minhas entranhas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Moisés – um dos grandes generais da história?

No documentário «Batalhas Lendárias: Moisés perseguição mortal» (ou no original «Batles BC: Moses death chase») é feita, segundo uma perspectiva militar, toda uma nova abordagem ao episódio bíblico do êxodo (saída e fuga do Egipto dos Israelitas por volta do século XIII a.C., depois de uma permanência nas terras dos Faraós de cerca de 400 anos – pelo menos pelo que conta bíblia). Nesse documentário Moisés é apresentado mais como um chefe político e militar do que propriamente religioso, mesmo sem o excluir de tal papel - até porque nesses tempos antigos não se faziam o tipo de distinções de papéis que hoje se tenta fazer.
Viagem de Moisés para o Egipto -  Pietro Vannucci Perugino
Na Bíblia, mais concretamente no livro do Êxodo, é descrita a fuga dos israelitas e a consequente deambulação pelos desertos entre Egipto e Canaã, sempre escapando e evitando a adversidade rumo à terra prometida e aos combates que lá teriam de travar para a conquistar. Até aqui nada de novo mas tudo muda quando se começam a analisar alguns desses eventos, que normalmente são atribuídos a intervenções do Deus dos Israelitas, como meras estratégias e tácticas militares provenientes do génio e chefia de Moisés.
Primeiro, no documentário os Israelitas são tidos como guerreiros ao serviço dos Faraós, dai a sua permanência em terras do Egipto, mais concretamente no Nordeste do delta. Aí formavam um exército irregular controlável - pelo Faraó - que constituía uma barreira entre as riquezas do império do Nilo e potenciais povos invasores.
Foi a alteração de estatuto e das condições de serviço ao Faraó que levou os Israelitas à revolta e à saída do Egipto. Supostamente, perderam o estatuto de defensores e guerreiros para o de agricultores e artesãos. Isto aconteceu porque os Egípcios pois começaram a temer que os Israelitas – que eram um importante força militar - e a considera-los como potenciais invasores e conquistadores.
A perda de estatuto obviamente desagradou aos Israelitas, de tal modo que decidiram levar todos os bens que acharam necessários e, sob chefia de Moisés, partiram rumo à terra prometida. De notar que no texto hebraico a palavra usada para descrever a acção dos israelitas é “saquear” e não “pedir” viveres, provavelmente a razão que levou o Faraó a persegui-los posteriormente.
Milagre da Água que sai da rocha de Moisés - Jocopo Tintoretto
Já fora do Egipto, é deserto que a astúcia e genial liderança militar de Moisés se manifesta, pelo menos segundo o documentário em causa. Moisés viveu anteriormente muitos anos nesses desertos, o que fazia dele um conhecedor do terreno – um pressuposto fundamental para boas decisões estratégicas e tácticas no que toca ao comando de exércitos. Moisés conhecia também a organização dos exércitos Egípcios e usou essa informação para os derrotar – principio militar de recolha de informações sobre o inimigo.
No documentário analisa-se o episódio da coluna de fogo e nuvem de fumo que acompanhavam a frente, respectivamente de noite e de dia, da marcha israelita, fenómeno que na bíblia é tido como a manifestação de Deus guiando o seu povo escolhido. No entanto esta manifestação pode ter sido apenas uma imitação dos modos de conduzir e organizar exércitos em marcha segundo os preceitos egípcios, pois era comum que usassem recipientes elevados com brasas incandescentes na frente das colunas de marcha dos seus exércitos. Durante o dia tapavam essas brasas provocando fumo que se via à distância servia para guiar os exércitos, durante a noite atiçavam as brasas de modo a formarem um sinal luminoso igualmente visível à distância. Moisés, aplicando o seu génio militar, inverteu este sistema de comando confundindo os Egípcios que o perseguiam. Colocou o recipiente das brasas à cauda da coluna de marcha e não à cabeça, o que fazia crer aos egípcios que os israelitas andavam perdidos e se aproximavam.
Num outro episódio Moisés usou as chamas para novamente enganar os egípcios. Numa determinada noite, quando os egípcios acampavam perto de si, colocou fogueiras entre o seu povo e os Egípcios, permitindo-lhe esgueirar-se durante a noite mesmo em frente aos olhos egípcios sem ser por eles notado. Já na altura se sabia uma luz numa noite escura oculta o que se passa para além dela. Foi nessa derradeira fuga que Moisés utilizou novamente os seus conhecimentos do terreno, atravessando o Mar de Juncos - e não o Mar Vermelho como se costuma afirmar. Esse Mar era uma espécie de pântano, muito afectado pelas marés e pelos ventos, sendo que em marés baixas e com ventos favoráveis podia de ser atravessado a pé. De manhã, quando os Egípcios tomaram consciência que tinham sido ludibriados decidiram atravessar o Mar de Juncos de Imediato. No entanto, nessa altura, a maré começava de novo a subir e inutilizou os carros de combate egípcios – a principal forma de combate dos faraós – que ao tentar atravessar se atascavam no pântano alagado.
 
Por estes e outros episódios, tendo em conta uma análise militar, bem que Moisés, a ter existindo enquanto figura histórica, pode ter sido um dos melhores generais e estrategas da história militar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma retrospectiva, síntese e opinião histórico-económica do estado da economia

Hoje trago aqui ao blogue um texto sobre economia – da pura e dura. Trago este texto pois faz uma análise simples, objectiva e concisa sobres as causas que causaram a situação económica que hoje vivemos em Portugal. O texto em causa intitula-se «PIIGS versus FUKD: dilemas do pensamento económico provinciano», da autoria de João Pinto e Castro e publicado no Le Monde Diplomatique de Março de 2010 na sua versão portuguesa.
A última ceia - Frida Kahlo
Então o autor começa assim: “Ora o que se passou em Portugal era perfeitamente previsível à luz da elementar teoria económica: baixando rapidamente os juros, aumentou como consequência directa e imediata o endividamento dos particulares, das empresas e do Estado, ao mesmo tempo que baixava a poupança interna. Rareando a poupança interna, os bancos foram buscá-la ao exterior, daí resultando o rápido crescimento do endividamento externo (…) a entrada de em força das exportações chinesas na Europa, completada pelo livre acesso ao mercado dos países de leste. Mercê de uma economia frágil e pouco qualificada, a indústria portuguesa soçobrou. (…) a integração na zona euro privou Portugal de instrumentos de política económica que ajudassem a reagir às suas dificuldade.”
A nível internacional: “no do fatídico mês de Agosto de 2007. O pior parece ter sido evitado a partir do momento em que intervenções maciças dos governos permitiram deitar mão a sistemas bancários à beira do colapso e estimular a procura intervindo em sectores e empresas e lançando investimentos públicos de emergência. (…) Eis porém, que por todo o mundo se ergue um coro de protestos contra o rápido crescimento do endividamento dos Estados e um existência de medidas urgentes para controlar a situação”
Estas palavras do autor - que tive de extrair desmembrando o texto original pois é muito mais complexo e longo - penso serem capazes de sintetizar alguns dos acontecimentos que nos levaram ao actual panorama económico.
"
Continuando com mais exemplos e com algumas perspectivas inovadoras: “(…) a dívida não é tudo. (…) o aumento do endividamento não é a causa dos problemas, mas um mero sintoma. (…) se o que conta é o nível da dívida em proporção do produto, uma quebra acentuada do produto pode contribuir para agravar ainda mais a situação ao contrariar os recursos quer permitiriam pagá-las.(…) se às persistentes quebras do consumo e do investimento privado sem fim à vista somarmos a da dívida pública, o mundo entra em colapso. (…) Estamos perante uma um impossibilidade lógica: se alguém exporta é porque alguém importa; ao nível global é, portanto, impossível todos crescerem por essa via.”
Agora as soluções do autor, embora possam ser pouco vagas, vale a pena referir para completar aqui a exposição do artigo: “A necessidade de reformar o sistema monetário europeu deve ser decididamente assumida e colocada em cima da mesa. (…) questionar  os objectivos do BCE [Banco Central Europeu] que escandalosamente secundizaram o crescimento e o emprego, exigir maior transparência no seu funcionamento; e impor-lhes a obrigação de prestar contas. (…) [implementar uma] centralização orçamental deveria por sua vez ser acompanhada de um reforço dos poderes do Parlamento Europeu para assegurar o controlo democrático do processo político.”
Abraço amoroso - Frida Kahlo
Concorde-se ou não com o autor, com partes ou com o todo, este excelente texto, cheio de exemplos e relações que tornam a história recente económica mais tangível, permite-nos reflectir sobre estes eventos e acontecimentos que hoje nos afectam. Nem que seja nas noticias que nos chegam todos os dias pelos Media.

domingo, 3 de outubro de 2010

Afinal quantas repúblicas existiram em Portugal, 3 ou 2?

Ontem tive o enorme prazer de ter assistido a uma conferência intitulada de «Da monarquia à Republica» em que o principal orador foi o professor Amadeu Carvalho Homem - catedrático de história da Universidade de Coimbra.
As promessas - José Malhoa
Nessa sua intervenção o professor descreveu e relatou os eventos que desde o século XVIII até ao inicio do século XX levaram e culminaram na primeira república em Portugal. Ao longo das suas várias intervenções, para além dos preciosos conhecimentos que partilhava, o professor deixou-nos a seguinte ideia: "Portugal teve apenas duas repúblicas e não três". Fundamentou esta sua tese argumentando que o Estado Novo não deveria ser considerado como uma verdadeira república, pois de república só tinha o nome porque os ideais republicanos nunca foram verdadeiramente praticados pelo regime salazarista. Disse mais ou menos o seguinte: “o Estado Novo de república só tinha os selos e a moedas, só ai é que a república se via e aparecia”.
Que o regime tinha sido anti-democrático é uma ideia que nada surpreende, mas de que não se tratava de uma verdadeira república, na minha modesta opinião, já surpreende – pelo menos aparentemente. No entanto se analisarmos os princípios pelos quais se regem os ideais republicanos – Igualdade, fraternidade e liberdade – dificilmente os encontramos no Estado Novo. A liberdade não existia pois tratava-se de um regime totalitário e autoritário, pois até o sufrágio universal era um embuste. A igualdade também era inexistente pois os cidadãos não detinham os mesmos direitos nem eram considerados pelo Estado de igual modo nas suas vontades e aspirações. A fraternidade também pouco era defendida pelo Estado pois tal não pode existir pela imposição ou força e não havia a preocupação em fomentar a fraternidade pela educação e pelos serviços de um modo universal que promoverem a cidadania activa – ainda hoje sentimos os reflexos da falta de cidadania e envolvimento cívico dos cidadãos.
Assim, confesso que fiquei rendido a esta tese do professor A. C. Homem - acho que não erramos quando dizemos que tivemos apenas duas republicas em Portugal, porque mesmo que não sendo perfeitas, a de 1910 e a de 1974 pelo menos tentaram implementar os ideais republicanos enquanto que a de 1933 os esqueceu e de republica teve apenas o nome.

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